Considero, sobretudo dada a disparidade das forças em confronto, que a minha luta pelo português de Portugal está condenada à derrota.
Apesar disso, continuo a entender que só é derrotado quem desiste de lutar. Ora desistir é algo que me recuso a fazer, mesmo sabendo que do outro lado está uma força monumentalmente maior em todos os aspectos, sobretudo no número de falantes.
Sou, portanto, contra o Acordo Ortográfico. Admito, quando muito, que se deixe que sejam o tempo e os protagonistas a transformar a língua, a dar-lhe eventualmente diferente grafia, tal como acontece com a introdução de novos termos.
É claro que existem letras que, no português de Portugal, podem ser suprimidas sem que venha grande mal ao mundo. Mesmo assim, também não viria grande mal ao mundo se o meu Bilhete de Identidade disse que eu nasci no “uambo”. Mas a verdade é que eu nasci no “Huambo”.
Se o sapato português já foi «çapato» e a farmácia foi «pharmácia», é bem possível que, de forma natural, também o facto passe a fato. Mas a forma natural é deixar a língua fazer a sua viagem ao logo dos anos, das décadas, dos séculos, sem as amarras que lhe querem pôr.
E o que defendo para Portugal, defendo para qualquer outro dos países lusófonos. É legítimo que os brasileiros, não só porque são especialistas em inventar palavras, mas, sobretudo, porque podem impor a razão da força dos seus muitos milhões de cidadãos, queiram neutralizar a força da razão daquela “meia dúzia” de tugas que estão nas ocidentais praias lusitanas.
Não cabe aos que defendem o português, contudo, abdicar e atirar a toalha ao tapete quando podemos ser poucos, mas podemos ser bons (sem querer dizer que os outros são maus). Creio, aliás, que a língua ainda é das poucas coisas que são verdadeiramente nossas. Tudo o resto é “made in” qualquer outro país.
Por isso, esta é para mim, uma questão de identidade e de honra que deve continuar a ter as suas próprias características, respeitando a dos outros e convivendo em sã harmonia com as diferenças.
Aliás, quando me falam de harmonização (seja do que for) cheira-me logo a algo hitleriano. Por isso, custe o que custar, não serei eu a render-me a um acordo ortográfico contra-natura e violador das diferenças que são, aliás, a grande força da Lusofonia.
3 comentários:
E duques!
Sou Flavia Virginia, brasileira, vivi em Angola, e estou de pleníssimo acordo com você. Essa é apenas mais uma imposição comercial que vai dar seus efeitos deletérios também na cultura. Não somos iguais, o que é ótimo, pois, a sermos iguais, por quê teríamos que ser todos mais ou menos brasileiros? E quem são esses que vêm mexer na nossa língua como se nada? Por que não fizeram um plebiscito para ver se alguém está precisando descaracterizar o próprio sotaque - que é, por exemplo, o que subjaz à retirada dos cs e ps no caso português? Enfim, mais uma forma de violentar-nos, cada vez mais naquilo que podemos reconhecer como nosso. Eu não adoto.
Apoiado! Eu também não adopto. Nem que a vaca tussa! Na diferença está a riqueza, e ficamos todos mais pobres com este (des)acordo... ainda que algumas editoras tenham ficado mais ricas... Mas não quero saber de histórias (e também não quero saber de "estórias", nem de "embaixadoras" nem de acções "provocatórias". Chamem-me retrógada se quiserem.). Estou até a pensar em ressuscitar a pessoa verbal "vós" à laia de protesto. Vivam as variantes do português, sempre!
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