sexta-feira, maio 02, 2008

Rocard defende projecto social-democrata

Michel Rocard, uma das grandes figuras históricas da Esquerda francesa, primeiro-ministro do presidente François Mitterrand entre 1988 e 1991, considera que, terminada a Guerra Fria, os desafios dos próximos 20 anos têm a ver com a ecologia, com a violência identitária e com o terrorismo.

No ciclo de conferências políticas da Fundação Serralves, no Porto, anteontem à noite, Rocard (apresentado por Mário Soares como um europeísta convicto) analisou "O Mundo contemporâneo e a política nos próximos 20 anos" e concluiu que, pelo andar da carruagem, o quadro será bastante negro.

E porque todos estes novos desafios só serão resolvidos em função do bom ou do mau desempenho de uma economia globalizada, Rocard considera que, "depois de algumas décadas de grande crescimento económico", foi a vez da crise se instalar". Ou seja, o "impacto ainda está para vir", até mesmo na maior economia do Mundo, onde "1,3 milhões de norte-americanos, proprietários de casas, não conseguem pagar as prestações dos seus empréstimos à habitação", prevendo-se que "este ano mais três milhões irão aumentar o rol".

Segundo Rocard, "o salário médio real tem-se mantido estável nos últimos 20 anos nos EUA, com 1% da população a captar todos os ganhos resultantes do crescimento de 50% do Produto Interno Bruto", sendo que, em França e no mesmo espaço de tempo, "foram injectados cerca de 2,5 biliões de euros no mundo financeiro, o que sugere um total de 30 a 60 biliões de dólares para o todo da economia mundial".

Rocard recorda a "imoralidade crescente do sistema", pondo o dedo na ferida ao escandalizar-se com o facto de "a remuneração dos dirigentes empresariais atingir 300 a 500 vezes o salário médio dos quadros intermédios", valores que variavam entre 40 e 50 vezes no século passado.

"É perfeitamente óbvio que o capitalismo está demasiado instável para sobreviver sem uma forte regulação pública", opina Michel Rocard, acrescentando que "depois de muitos anos a ser negligenciado como uma opção viável, é altura de delinear um projecto social-democrata para o Mundo".

Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)/Orlando Castro

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