segunda-feira, maio 05, 2008

UNITA prepara os melhores velocistas
para a decisiva corrida… a maratona

Segundo a manchete de hoje do Notícias Lusófonas, a UNITA defendeu em Luanda que as eleições legislativas previstas para 2008 deverão "simbolizar o fim da exclusão social, da hegemonia e do absolutismo, do poder ilimitado e indivisível e da era do partido/Estado".

Ou seja, continuamos a imaginar que as eleições terão lugar este ano. Daí estarem previstas. Concordo que deva acabar, não deveria – aliás – ter existido, e exclusão, a hegemonia e o absolutismo e restantes defeitos apontados pela UNITA.

Só não percebo a razão pela qual a UNITA continua a dar cobertura, pela sua presença (mesmo que quase simbólica), ao Governo. Haverá, eu sei, mil razões, para lá estar. Mas há com certeza uns milhões delas para não estar, digo eu que não percebo da poda.

Na abertura dos trabalhos da IV reunião do Comité Permanente da UNITA, Isaías Samakuva apelou à união dos militantes, dizendo que ambiciona a vitória nas eleições legislativas e a "maioria qualificada" na Assembleia Nacional.

Readaptando uma das máximas de Jonas Savimbi, espero que Samakuva saiba que "há um preço muito elevado a pagar” e que, por isso, “assuma esta responsabilidade e quando chegar a hora dos resultados, não seja ele a dizer que não sabia” ou que, acrescento eu que não percebo nada da poda, não foi avisado.

Na sua intervenção, Samakuva recordou que, além das eleições legislativas, o ano de 2008 será marcado por "frenéticas" actividades e "manobras" económicas nos círculos do poder, devido à disponibilidade pela primeira vez na história do país de mais de 30 mil milhões de dólares.

A questão, caro Presidente da UNITA, não está – como diria o meu amigo Anastácio Sicato – no diagnóstico, está isso sim na capacidade, ou não, de curar a enfermidade. Está em saber se a doença se cura com aspirinas com uma séria intervenção cirúrgica.

"Afirmamos que enquanto isso a maioria dos angolanos continua aprisionada no ciclo da pobreza. Os salários continuarão insuficientes para cobrir o constante aumento do custo de vida", salientou Isaías Samakuva, repetindo o que todos nós sabemos, o que no Alto Hama (há muitos anos mantido no Notícias Lusófonas) tenho dito e repetido até à exaustão.

Relativamente à intolerância política que o seu partido tem sistematicamente reclamado afirmou que "os pronunciamentos do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, sobre a necessidade da tolerância, o respeito pela diferença, não foram suficientes para demover os seus colegas do Bureau Político do MPLA em incitar tais actos (de intolerância) só para merecerem a desaprovação geral da sociedade".

Caro Presidente da UNITA, não estará na altura de dizer que o rei vai nu, de dizer sem medos que o principal responsável pela intolerância é o próprio Presidente do MPLA, por sinal Presidente da República?

A UNITA prevê vencer as legislativas deste ano, tendo Isaías Samakuva considerado que um dos objectivos do partido centra-se na instalação de um sistema de governo republicano em 2008 e a adopção de soluções "realistas" para acabar com a pobreza e a "exclusão social" e a negociação de um "pacto de estabilidade" para garantir que qualquer mudança seja feita, sem "revanchismos", com "grandeza moral" e "no interesse de todos".

Nessa perspectiva, prometeu que quarta-feira transmitirá ao país aquilo que considera a "pedra de toque" da UNITA para a disputa eleitoral que se avizinha.

É tarde, mas mais vale do que nunca. Aliás, a UNITA continua a apostar em técnicas, em meios, em estratégias, em planos muito bem concebidos para uma prova de 200 metros, com um ou outro obstáculo. Infelizmente para os angolanos, a UNITA ainda não percebeu que vai entrar numa maratona.

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