quinta-feira, novembro 17, 2011

Portugal precisa, Angola tem. Portanto…

Passos Coelho está em Angola, em bom português, com a mão estendida aos capitais do reino de José Eduardo dos Santos. Portugal precisa, Angola tem. Portanto…

É certo que, a fazer fé em organismos internacionais, Angola é um dos países com elevados índices de corrupção, mas isso não impede, nunca impedirá, que Portugal estenda a mão. E quem estende a mão tem de comer e calar. É por isso previsível que o primeiro-ministro português tenha banido da sua linguagem qualquer referência à transparência.

Na entrevista ao órgão oficial do regime, o Jornal de Angola, Passos Coelho afirma  que vê com "muito bons olhos a participação do capital angolano na economia portuguesa e noutras privatizações que o Estado venha a realizar no próximo ano".

Se essa participação se faz com dinheiro de origem duvidosa, ou à custa de metodologias pouco transparentes, não interessa. O importante é que se faça. O resto ver-se-á na altura em que, provavelmente outros, terão de fechar a porta.

Questionado pelo jornal Público sobre se iria abordar o tema da transparência em Angola à luz das mudanças internacionais, o primeiro-ministro respondeu através do seu gabinete: "A visita servirá para fazer o ponto de situação sobre os principais aspectos das relações políticas e económicas entre os dois países."

Portugal, tal como a restante comunidade internacional, sabe que é mais fácil, muito mais fácil, negociar com ditaduras do que com democracias. É mais fácil negociar com quem está, é o caso de Angola, há 32 anos no poder (sem ter sido eleito) do que com alguém que possa ter de abandonar o cargo pela escolha do povo.

Passos Coelho está, nesta fase, mais interessado em facturar sobre o facto de o “líder carismático” de Angola ser bestial, esperando que quando ele passar – como todos os ditadores – a besta, não tenha de prestar contas.

No último relatório de 2010 da Transparência Internacional, Angola aparece no 10º pior lugar entre 178 países analisados. Esta semana, o presidente do Banco Espírito Santo Angola, Álvaro Sobrinho, aparece no circuito jurídico de Portugal como suspeito de fraude no Banco Nacional de Angola .

O petróleo, gerido pela empresa estatal Sonangol, representa 60% do Produto Interno Bruto e 98% do total das exportações angolanas, sendo a maioria explorado na colónia de Cabinda.

Recorda o Público que, “embora tenha publicado as suas contas, a petrolífera foi acusada de "esconder" "milhares de milhões de dólares" pelas organizações Global Witness e Open Society Initiative for Southern Africa”.

Se o petróleo é o produto que Portugal mais importa de Angola, país que é o principal destino das exportações portuguesas, extra UE, se BES, Millennium bcp, Caixa Geral de Depósitos estão em força no reino de Eduardo dos Santos, se já há em força capital angolano no BCP, BPI, Banco BIC Português, se o BPN vai passar para mãos dos donos de Angola, porque carga de chuva irá o “africanista de Massamá” hostilizar o grande soba?

Mas há mais razões para a bajulação portuguesa: “A empresa portuguesa mais valiosa que lidera os investimentos portugueses em Angola, a Galp, é detida em 15% pela Sonangol por via da Amorim Energia (da qual a Sonangol detém 45%). O presidente da Sonangol, Manuel Vicente, é vogal da administração da Galp”, recorda o Público.

De facto, como há já alguns anos dizia o Rafael Marques, os portugueses só estão mal informados porque querem, ou porque têm interesses eventualmente legítimos mas pouco ortodoxos e muito menos humanitários.

Custa a crer, mas é verdade que os políticos, os empresários e os (supostos) jornalistas portugueses (há, é claro, excepções) fazem um esforço tremendo (se calhar bem remunerado) para procurar legitimar o que se passa de mais errado com as autoridades angolanas, as tais que estão no poder desde 1975.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ainda bem que ainda sobram homens que nao teem preco.

Uffa...

Que aliviooooo...