O ministro das Relações Exteriores de Angola alertou hoje para o risco de os protestos de rua poderem degenerar em conflitos de proporções incontroláveis.
Georges Chicoti não está com meias medidas e, com as barbas de molho, adverte que os manifestantes (que até julgam viver num Estado de Direito Democrático) terão que assumir as consequências do que provocarem.
E como, segundo a lei do regime angolano, são culpados até prova em contrário, vão levar muita porradinha e num ou noutro caso ter o azar de chocar contra alguma bala perdida. Tudo, é claro, à bem da nação cujo sumo pontífice está no poder há 32 anos sem nunca ter sido eleito.
“Temos um país com vários grupos étnicos, com várias sensibilidades políticas e se cada um for para a rua e pegar em alguma coisa? É verdade que vamos aceitar algumas manifestações, mas temos que ter o cuidado de que isso não descambe”, diz o ministro Georges Chicoti, certamente preocupado com as regras de uma democracia… que Angola não é.
“Temos que ter a certeza que podemos assumir as consequências das opções que escolhermos e nem sempre é assim. Veja como a guerra começou em 1975: todos pensámos que íamos para a democracia e acabámos lutando. É preciso ter esses cuidados”, disse Georges Chicoti, esquecendo-se – ou guardando para melhor oportunidade – de referir que a responsabilidade dessas perigosas e bélicas manifestações é de todos aqueles que não são do… MPLA.
Dava jeito, se dava!, que Jonas Savimbi ainda estivesse vivo. Aí seria fácil arranjar um bode expiatório. Mas se Georges Chicoti pensar bem verá que, afinal, a culpa continua a ser dos mesmos, ou seja, esses malditos kwachas.
O ministro comentava assim o recente protesto contra o presidente José Eduardo dos Santos, que juntou algumas centenas de jovens em Luanda e resultou na detenção e ferimento de um número indeterminado de participantes, bem como na agressão a alguns jornalistas.
Georges Chicoti poderia, igualmente, responsabilizar os jornalistas – sobretudo estrangeiros e particularmente portugueses - por estarem a meter na cabeça dos angolanos que a liberdade é um direito sagrado.
Sagrado poderá ser, mas não num país que tem como presidente o representante terreno de Deus.
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