Pelos vistos, Angola deve ser o país do mundo que tem mais paióis por metro quadrado. Mas só são descobertos quando dá jeito ao regime.
Um paiol com cinco mil obuses de calibres diversos, granadas de mão, armas diversas e outro tipo de material letal, foi encontrado em Nhemba, comuna de Kalussinga, município do Andulo, na província do Bié.
A notícia é da agência de propaganda do regime, a Angop, e explica que “camponeses locais encontraram o esconderijo, tendo comunicado as autoridades administrativas, que procederam à sua desactivação”.
"Ninguém, quer mais guerra, basta o que se passou durante cerca de trinta anos. Vamos todos trabalhar para a preservação da paz e o bem-estar social, no país", exortou a administradora de Kaluassinga, Faustina Bundo, acrescentando que tudo passa pela denúncia dos actos atentatórios à consolidação da paz.
Nhemba localiza-se a 25 quilómetros da sede comunal de Kalussinga, no troço de acesso ao município do Mungo, província do Huambo.
Mais uma vez, e sempre sem grande originalidade (o que raio andam a fazer em Luanda os conselheiros portugueses e brasileiros?), o MPLA, ou seja, o regime angolano, continua a provocar deliberada e conscientemente a UNITA. Vale tudo.
Aliás, no país existem apenas angolanos de primeira, os do MPLA, e os kwachas, uma subespécie que teima em resistir. Certamente graças aos paióis que têm espalhados por todos os cantos e esquinas.
Agressões e assassinatos fazem parte de uma estratégia do regime que visa dar ao governo razões para calar, silenciar, tirar o pio a toda a sociedade angolana, mesmo à que pertence a outros partidos, acenando de novo com o espectro da guerra.
Nada melhor do que esse fantasma para o MPLA fazer, mesmo internamente, todas as purgas que ache convenientes e cortar pela raiz todas as veleidades similares às tunisinas, egípcias ou líbias. Isto porque os angolanos só são livres para dizer o que o regime quer. Fora disso, cuidado. Mesmo no seio do MPLA o cuidado impera. É que os 27 de Maio são sempre que Eduardo dos Santos quiser.
Ao atacar o seu principal adversário, o MPLA justifica perante o mundo que há razões internas para pôr na ordem todos os contestatários que, segundo o regime, juntam às manifestações populares os paióis que vão semeando pelo país.
A UNITA volta a ser um muito útil bode expiatório. Enquanto o MPLA estiver no poder vamos por isso continuar a assistir a sucessivas reedições da velha história de que o Galo Negro tem armas escondidas em paióis dispersos pelo país, ou até mesmo à divulgação da prisão de militantes com armas na mão.
A UNITA está assim, como era esperado, entre a espada e a parede. Se nada fizer continuará a ser enxovalhada, se reage vai ser acusada de estar a fomentar a rebelião ou até mesmo de estar a preparar uma nova guerra.
"É necessário que se faça um trabalho árduo em prol dos ideais do partido, tendo em conta o actual contexto da vida política do país", afirma regularmente Isaías Samakuva, exortando todos os dirigentes, militantes e simpatizantes da UNITA a trabalharem para mudar o curso dos resultados obtidos nas últimas eleições legislativas.
Legislativas nas quais a UNITA, recorde-se, teve apenas 572.523 votos a que correspondem a 10,36% e 16 deputados na Assembleia Nacional, contra os 70 da legislatura anterior resultante das eleições gerais de 1992.
Continuo a pensar que a UNITA está mais virada para o seu umbigo do que para a barriga vazia dos angolanos, mais (ou totalmente) disposta a escorraçar os que pensam de forma diferente, mais preocupada em reagir do que em agir.
E até agora, salvo raras excepções, a UNITA tem feito o papel que lhe foi dado pelo regime, procurando apesar de tudo dizer aos angolanos que é preferível ser livre de barriga vazia do que escravo com ela mais ou menos cheia.
Mas, está visto, os angolanos estão cada vez mais interessados em ter um saco de fuba do que a bandeira da UNITA hasteada. Além disso, não esquecem que quem lhes pede esse esforço são os que, um pouco por todo o país, têm pelo menos três boas refeições por dia.
Para mostrar serviço, a UNITA gasta balas preciosas para matar a onça que, afinal, já há muito está morta, ficando sem munições para disparar contra o leão que, esse sim, está de atalaia. Será difícil entender isto? Pelos vistos é. E então quando é dito por angolanos brancos... a coisa torna-se mais negra.
A Direcção da UNITA não gosta, um pouco à semelhança do próprio MPLA, de quem pensa de maneira diferente. O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu, não vê e dificilmente verá na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida.
De há muito que pergunto: Terá sido para isto que Jonas Savimbi lutou e morreu? E lá vou acrescentando: Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus muitos erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido.
Continuo a lamentar que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro... mesmo sendo brancos.
Também é pena, importa continuar a dizê-lo, que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
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