sábado, setembro 03, 2011

E ele continua a cantar e a rir


A pobreza, essa coisa que escapa ao entendimento dos super-especialistas do governo português, continua a aumentar. Mas a solução é simples, segundo Passos Coelho: vivam sem comer, morram sem ficar doentes.

O número de novos pedidos de ajuda que chegam às Instituições Particulares de Solidariedade Social, Misericórdias ou Cáritas continua a aumentar e a pobreza deixou de ser só entre os mais idosos: afecta também mais novos e empregados.

É claro que, como diz Luís Filipe Menezes, a culpa é sempre dos outros. Provavelmente no início da linha estará D. Afonso Henriques.

O presidente da Câmara de Gaia, conselheiro de Estado, ex-presidente do PSD e putativo candidato à Câmara do Porto diz mesmo que o seu partido deve deixar-se de "pruridos" e lembrar aos portugueses que o esforço pedido é a "factura a pagar" pela "incompetência dos governos socialistas".

Houve tempo em que Menezes dizia que a culpa era dos “sulistas e elitistas”. Agora parece que o odioso é todo dos socialistas, mesmo que sejam nortistas e popularuchos.

Certo é que a culpa nunca é, nunca foi nem nunca será do pessoal do PSD. Só falta dizer que  Portugal se revê em Deus no céu e em Passos Coelho na terra.  É, aliás, muito mais fácil não assumir as responsabilidades, catapultando toda a culpa para uma qualquer pesada herança, socialista, salazarista ou comunista.

Mas voltemos ao mundo daqueles, que não é o mesmo de Menezes ou Passos Coelho, que olham para os pratos vazios.

Os responsáveis da Cáritas, Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS) e União das Misericórdias concordam que não é possível quantificar os novos pedidos de ajuda que continuam a chegar, mas têm a certeza que são cada vez mais.

"O que sabemos é que continuam a aumentar os novos pedidos e há Cáritas que já estão com impossibilidade de atender em tempo útil a todos os casos que vão sendo registados", garante o presidente da instituição pertencente à Conferência Episcopal para a dinamização da acção social da igreja, Eugénio Fonseca.

Já o presidente da União das Misericórdias, Manuel Lemos,  garante que os números quadruplicaram nos últimos dois anos. "À União das Misericórdias chegam por dia quatro a cinco pedidos de pessoas empregadas: ou estão com salários em atraso ou há um membro da família desempregado e não conseguem fazer face às despesas do agregado familiar", revela.

Eugénio Fonseca revelou que a prova de que cada vez mais pessoas precisam de ajuda está no grande fluxo de pedidos durante o mês de Agosto, o que não era normal de acontecer, já que neste mês de Verão havia alguma facilidade em encontrar trabalho.

"A razão de fundo é o desemprego, mas estão a aparecer pessoas que já estiveram nos atendimentos da Cáritas, passaram a beneficiar de algum subsídio do Estado, nomeadamente Rendimento Social de Inserção [RSI], e agora face aos cortes resultantes das medidas de austeridade, e nomeadamente à reformulação das regras do RSI, deixaram de ter direito a essa medida ou viram reduzidos os montantes", explicou o presidente da Cáritas.

Manuel Lemos acrescentou que a novidade está no facto de haver cada vez mais pedidos que vêm de pessoas empregadas: “Estamos a falar de pobreza com emprego, o que em termos absolutos não é uma novidade, mas é uma novidade em termos de expressão".

"O retrato da pobreza alterou-se porque agora temos bastante gente em idade activa, que se viu no desemprego ou com familiares no desemprego, com dívidas acumuladas e sem capacidade para as pagar. Vemos muita gente assim a ser atirada para a pobreza, que estava um bocado localizada nos mais idosos", apontou Lino Maia.

Se o desemprego é uma causa directa, Manuel Lemos também responsabiliza "algumas políticas públicas cegas", enquanto Eugénio Fonseca lembra que "está provado que se não fossem as transferências sociais, os abonos de família, o RSI, o complemento solidário para idosos, haveria cerca de 43% da população em risco de pobreza".

“Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos. Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado. Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa”, dizia em Março de 2010 alguém que, nessa altura, se chamava Pedro Passos Coelho.

E esse mesmo alguém, acrescentava que, "se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português”, não se inibindo de afirmar: "Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate."

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