segunda-feira, setembro 12, 2011

Para memória futura - Tó Zé Seguro

O dirigente socialista António José Seguro considerou, em 4 de Abril de 2010, “obscenos” os valores das remunerações referentes a 2009 pagas ao presidente executivo da EDP, António Mexia, que terão atingido 3,1 milhões de euros.

No dia 27 de Novembro de 2008, o Tó Zé Seguro negou estar a preparar uma candidatura a secretário-geral do PS em oposição ao então líder do partido, José Sócrates, embora avisando – como agora se comprova mais uma vez – que nunca abdicará de ter "opinião própria".

Nesse dia escrevi aqui um texto com o título: “Com António José Seguro como líder até eu admitiria (confesso) votar no PS”.

Também no seu site (www.antoniojoseseguro.com) disse que “tal não obsta a que eu continue, quando entender, a expressar as minhas opiniões sobre o nosso país, no interior do PS e publicamente. Ter opinião própria não significa que tenha de ser candidato. E eu não abdico de expressar as minhas opiniões, bem como de apresentar propostas para melhorar a vida dos portugueses".

Numa nota colocada no seu site a propósito das remunerações do presidente da EDP, dizia que “em fase de enormes dificuldades e de exigência de sacrifícios aos portugueses, é incompreensível como se atingem estes valores remuneratórios. É uma imoralidade!”, referia o ex-ministro de António Guterres e ex-líder parlamentar do PS, hoje secretário-geral.

Em declarações à agência Lusa, António José Seguro reiterou esta posição e observou ainda que a EDP é a empresa mais endividada do mercado de capitais português com 14,007 mil milhões de euros (mais 117 milhões do que em 2008).

De acordo com informação enviada pela EDP à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), António Mexia recebeu em 2009 mais de 1,9 milhões de euros em remunerações fixas, variáveis e prémios plurianuais, ou seja, 0,19 por cento dos 1,024 mil milhões de euros do lucro da eléctrica.

António Mexia recebeu, em 2009, 700 mil euros em salários fixos e 600 mil euros em remuneração variável (que varia segundo objectivos atingidos). A estes valores junta-se um prémio plurianual de mandato de 1,8 milhões de euros, que entra nas contas de 2009 e que corresponde a 600 mil euros por cada um dos três anos.

Conheci o António José Seguro no período áureo de António Guterres quando, em campanha eleitoral, se preparava para ganhar folgadamente as eleições.

Então como jornalista (nesse tempo ainda os havia…) acompanhei toda a campanha eleitoral do PS a norte, tendo o meu colega Pedro Morais Fonseca feito o mesmo a sul.

Nessa mesma altura conheci também, entre outros, Fausto Correia, Jorge Coelho e António Galamba que davam o litro na mobilização geral que haveria de levar António Guterres à vitória.

Foi uma campanha em que aos jornalistas só faltou dormir na mesma cama dos dirigentes socialistas. Promiscuidade? Não. De modo algum. Os jornalistas (nesse tempo ainda os havia…) tinham, isso sim, a possibilidade de conhecer os Homens que estão para além dos políticos (como agora mostrou, em Braga, o próprio To Zé Seguro) e que, como todos, amam, sofrem, erram e projectam o melhor.

Em muitas das peças que então escrevi, zurzi forte e feio no PS. Ao contrário de outros políticos que acompanhei também em campanhas eleitorais, António José Seguro discordava algumas vezes do que eu escrevia.

Um dia, quando em Coimbra António Guterres meteu água nas contas do PIB para a saúde, perguntei ao To Zé Seguro:

- Quer saber as linhas gerais do que vou enviar para o meu jornal?

- Não. De maneira nenhuma. Depois de publicado o que você pensa, então poderemos conversar.

Depois disso não mais voltei a conversar com ele. Ficou-me, contudo, e por isso aqui está este testemunho, a convicção de um político convicto (que já fora quase jornalista) que sabia - ao contrário de muitos outros  - que a sua liberdade terminava onde começava a dos jornalistas. Nesse tempo ainda os havia…

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