Com a inauguração da sua nova sede internacional, a CPLP tapa o sol com uma peneira, alimenta tachos e mordomias. Quanto aos cidadãos lusófonos… esse não é problema da organização.
"A nova sede internacional da CPLP foi conseguida de forma rápida, definitiva e a custo zero", declarou o ministro Paulo Portas na cerimónia de assinatura de cedência e aceitação do Palácio do Conde de Penafiel como nova sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O protocolo de cedência e aceitação do Palácio do Conde de Penafiel como sede internacional da CPLP, em Lisboa, foi assinado entre o Governo português, representado por Paulo Portas, pelo ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chicoti, como representante da presidência angolana da CPLP, e pelo director-geral da organização lusófona, Hélder Vaz.
O chefe da diplomacia portuguesa destacou que ao longo de anos a burocracia foi um dos principais entraves para a indicação de uma sede, em Lisboa, para a CPLP, que foi agilizada e instituída pelo actual Governo.
Quanto ao resto, quanto ao essencial, tudo continua na mesma para satisfação de todos aqueles que, como Paulo Portas, Georges Chicoti e Hélder Vaz, têm pelo menos três refeições por dia.
Ainda não foi desta, e seguramente nunca será, que a CPLP – organização presidida pelo único país lusófono cujo presidente nunca foi eleito, Angola, vai perceber a porcaria que anda a fazer em muitos países lusófonos.
De facto, a dita CPLP é uma treta, e a Lusofonia é uma miragem de meias dúzia de sonhadores. O melhor é mesmo encerrar para sempre a ideia de que a língua (entre outras coisas) nos pode ajudar a ter uma pátria comum espalhada pelos cantos do mundo.
E quando se tiver coragem para oficializar o fim do que se pensou poder ser uma comunidade lusófona, então já não custará tanto ajudar os filhos do vizinho com aquilo que deveríamos dar aos nossos próprios filhos.
É claro que na lusofonia existem muitos seres humanos que continuam a ser gerados com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome. Mas, é claro, morrem em... português... o que significa um êxito para a CPLP.
Alguém na CPLP quer saber que no país que preside è organização 68% da população é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças? Não, ninguém quer saber.
Alguém na CPLP quer saber que apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico?
Alguém na CPLP quer saber que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade?
Alguém na CPLP quer saber que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?
Alguém na CPLP quer saber que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino?
Alguém na CPLP quer saber que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos?
Alguém na CPLP quer saber que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?
Alguém na CPLP quer saber que 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população; que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda?
Alguém na CPLP quer saber que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?
Não. O silêncio (ou cobardia) são de ouro para todos aqueles que existem para se servir e não para servir. E quando não têm justificação para tamanha cobardia, lá aparecem a inaugurar uma nova sede…
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