sexta-feira, setembro 23, 2011

Mais encanto na hora da despedida

Se é certo que a coragem não vive para sempre, não é menos certo que a cobardia nem sequer chega a viver.

Augusto Santos Silva, ex-ministro dos governos de José Sócrates, pediu hoje a renúncia ao seu mandato de deputado do PS, para se dedicar ao ensino universitário na Faculdade de Economia do Porto.

É pena. E na hora da despedida, a tal que – às vezes – tem mais encanto, recordo-me de ouvir este  dirigente socialista e educador das massas operárias, acusar (10 de Janeiro deste ano) as forças de direita de "salivarem" perante a hipótese de o Fundo Monetário Internacional (FMI) entrar em Portugal e de colocarem os interesses partidários acima dos nacionais.

Falando de barriga cheia (estava num almoço de apoio a Manuel Alegre), Santos Silva começou então por justificar o voto em Alegre (o mesmo, recorde-se, que disse cobras e lagartos de José Sócrates) pela sua visão "progressista" e pela sua concepção de "democracia" com "pleno respeito pelas assembleias legislativas" do país.

Reconheço que na altura, tal como hoje, já estava com saudades (isto é como quem diz...) de ler algumas das pérolas a que Augusto Santos Silva nos habituara desde o tempo em que tinha a pasta, entre outras, de dono da comunicação social portuguesa.

Talvez por saber disso, de vez em quando ele aparecia – mesmo quando era ministro da Defesa - para malhar em todos aqueles que tinham a ousadia de pensar de forma diferente da dele que, aliás, era sempre igual (neste caso) à do então sumo pontífice do PS, José Sócrates.

Recordam-se de Augusto Santos Silva ter considerado ainda não há muito tempo (21 de Julho do ano passado) que o ante-projecto de revisão constitucional do PSD era “um manifesto extremista contra a Constituição”, que revelava “irresponsabilidade” e colocava “radicalmente em causa um equilíbrio de poderes que a democracia portuguesa laboriosamente construiu”?

Nesses tempos áureos, o Governo de José Sócrates, seguindo a metodologia de Augusto Santos Silva, continuava a malhar forte e feio nos enteados a quem acusava de "inacção" e de "cegueira ideológica". Só escapavam os que gravitam em volta do PS e que, hoje, se calhar transferiram o eixo da sua acção para o PS…D.

Se calhar o PS até tinha razão. Cada povo tem os políticos que merece. Dizia Augusto Santos Silva, certamente escorado na cartilha do perito dos peritos, José Sócrates, que a oposição "sucumbia à demagogia".

Demagogia que, como todos sabem, é uma característica atávica de todos os portugueses de segunda, ou seja, de todos aqueles que não eram do PS.

"A direita falha em critérios essenciais na resposta à actual crise, começando logo por falhar no requisito da iniciativa", sustentava o maior (a seguir a José Sócrates) perito dos peritos portugueses, considerando que a oposição não assumia uma defesa do princípio da "equidade social".

Seria com certeza por isso que os poucos que têm milhões mais milhões continuam a ter, e que os milhões que têm pouco ou nada... ainda têm menos, se é que isso é possível.

Quando se virava para a esquerda, o PS também batia forte e feio, ou não fosse o único dono da verdade. Em relação ao PCP atirava a matar, tal como fizera quanto ao Bloco de Esquerda, isto antes de terem selado uma união de facto a três, via Manuel Alegre.

Por agora, Santos Silva evitava dizer que o BE pertencem "à esquerda extremista" que "propõe o regresso ao paradigma colectivista".

"Estão cegos por preconceitos ideológicos que os impediram de perceber o quanto foi essencial estabilizar o sistema financeiro para responder à crise", disse em tempos, entre outras sábias alusões, Augusto Santos Silva.

Ora aí está. Bons só mesmo os socialistas. Nem todos, mas sobretudo os que, por terem coluna vertebral amovível, veneram qualquer líder, desde que esteja no poder. Por alguma razão, estando o poder agora nas mãos do PS…D, há muitos socialistas a virarem o bico ao prego.

"O PS é portador de uma liderança e de uma plataforma política para mobilizar o conjunto da sociedade", sustentava o PS, mostrando sempre que, na Terra, só Sócrates podia representar Deus como único detentor da verdade. Hoje se calhar é mais seguro falar de Seguro.

Embora os tais portugueses de segunda já soubessem há muito que o PS não era uma solução para o problema, mas, isso sim, um problema para a solução, vêem-se agora confrontados com similar problema depois de terem trocado de histrião.

Tal como nunca condenei todos aqueles que estavam a optar por ser portugueses de primeira, colando-se ao PS, não condeno os que agora se grudam ao PS…D.

É tudo uma questão de coragem. Se é certo que a coragem não vive para sempre, não é menos certo que a cobardia nem sequer chega a viver. Entre ambas é só escolher.

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