O jornalismo em Portugal (que já não sei bem o que é) vive um clima de turbulência resultante da perda de credibilidade. A coisa parece estar brava. Mas só parece.
Como sempre, é mais a parra do que a uva. Desde logo porque, ao contrário do que seria de esperar, os «macacos» não estão nos galhos certos. E quando assim acontece (e acontece muitas vezes), tanto jornalistas como produtores de conteúdos tendem a sobrevalorizar as ideias de poder em detrimento do poder das ideias.
O Estado de Direito... democrático ainda é, é cada vez mais,uma criança e, como tal, ainda há muitos vícios, deformações e preconceitos herdados que a muitos dá jeito conservar. É claro que o “quero, posso e mando” não serve nenhuma das partes.
Não serve mas é praticado, não serve mas é estimulado. Não serve mas vai servindo.
A promiscuidade na sociedade portuguesa está de pedra e cal. Na Comunicação Social todos a querem independente mas, como é hábito, controlam essa independência pelos mais diferentes meios, sejam económicos, partidários ou outros.
O jornalismo que vamos tendo, qual reles bordel, aceita tudo e todos. No entanto, reconheça-se, os jornalistas sempre podem ser deputados. Vá lá! Maria Elisa Domingues, Vicente Jorge Silva, Ribeiro Cristóvão foram exemplos de como, em Portugal, se confunde a obra prima do Mestre com a prima do mestre de obras.
Se todos podem ser jornalistas, porque carga de água não podem os jornalistas ser deputados... da Nação? Nem mais. É uma pequena vingança, mas mais vale pequena do que nenhuma. Não?
Aliás, a própria Comissão da Carteira Profissional de Jornalista entende que não é incompatível ser jornalista e deputado. O mesmo se passa com o Sindicato dos Jornalistas que viu o seu presidente ser candidato a deputado.
Nada importa. Os Jornalistas (até) não têm razão de queixa...
São uma classe prestigiada, nobre e cada vez mais dignificada? Não. É claro que não. Qualquer um pode ser jornalista. Utilizando as palavras de um amigo que, de quando em vez, me dá a honra de comentar o que aqui vou escrevendo, “para ter a carteira profissional de Jornalista basta o estágio que varia consoante as habilitações, ser maior de 18 e fazer do jornalismo o seu ganha-pão”.
Mais. Diz ele que “uma empregada de limpeza que seja amiga do chefe de redacção e de mais dois jornalistas que por sua honra confirmem que é colega de trabalho, passa logo a Jornalista”.
Embora o exemplo seja extremo, o pressuposto é verdadeiro. Aliás não faltam casos que, perante a apatia dos (verdadeiros) profissionais, confirmam a tese deste meu amigo.
“O caso do Quinito foi uma boa prova da anarquia em que nos encontramos. Era um futebolista que passou a treinador, e de treinador a jornalista e director de um jornal regional”, desabafa o meu amigo.
É claro que o Jornalismo não é isso. Mas também é claro que o “nosso” jornalismo é também isso. É e será enquanto os Jornalistas não colocarem a casa em ordem... Mas isso dá muito trabalho e rende pouco.
É muito mais vantajoso e lucrativo ser criado de luxo do poder.
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