sexta-feira, setembro 30, 2011

Para quando uns motins a sério?

O secretário de Estado do Orçamento de Portugal, Luís Morais Sarmento, anunciou hoje que o Governo vai tomar mais medidas de austeridade. Venham elas!

"Estes valores do primeiro semestre mostram que o Governo estava certo quando tomou medidas de urgência - antecipar aumento do IVA sobre os produtos energéticos e estabelecer a sobretaxa do IRS para 2011 -, mas isso apenas não chega", disse o governante na comissão parlamentar do Orçamento e Finanças.

Por deficiência congénita e ancestral, os portugueses são um povo de brandos costumes que, quase sempre, defendem a tese de que “quanto mais me bates mais gosto de ti”.

Mas, quem sabe?, talvez um dia acordem e mostrem que estão fartos de quem em vez de os servir… só se serve deles.

"Estão criadas as condições para que as contestações se alastrem", porque a "base da pirâmide demográfica é dominada por jovens, entre os 16 e os 25 anos, logo a propensão para haverem problemas é muito grande", explicou em tempos à agência Lusa o investigador na área da segurança e professor universitário, José Vegar.
É certo que em Portugal aumenta o número dos que pensam que a crise (da maioria, de quase sempre os mesmo) só se revolve a tiro. Parece-me uma boa opção.

Mesmo que assim seja, se calhar os responsáveis pela tragédia (como é o caso, entre outros, de Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho e Paulo Portas) vão continuar a ter pelo menos três boas refeições por dia.

De uma coisa os portugueses não podem, contudo, esquecer-se: Como dizia Platão: "O castigo por não participares na política é acabares por ser governado por quem te é inferior."

E, convenhamos, se o valor dos portugueses se medisse pelo nível dos seus actuais, anteriores e anteriores aos anteriores  políticos, estariam certamente abaixo do último do lugar do “ranking” mundial.

Segundo um estudo da Aon Risk Solutions, Portugal apresenta, pela primeira vez em dez anos, um risco político com ameaças de greves, de motins e de comoção civil.

"Embora tenha mantido o mesmo 'rating' - aquele que indicia o mais baixo patamar de risco - pela primeira vez foram especificados dois riscos específicos, nomeadamente, o de incumprimento da dívida soberana e o de ocorrência de fenómenos de violência pública", disse já há algum tempo à Lusa o director geral da Aon, Pedro Penalva.

De acordo com o responsável pelo estudo da Aon Risk Solutions, a empresa global de gestão de risco da Aon Corporation, "Portugal é um dos países que surge pela primeira vez na história do 18º Mapa de Risco Político, dada a conjuntura actual em comparação com outros anos".

O legado da recessão mundial, a recente crise da dívida soberana, os desenvolvimentos ocorridos na Grécia neste domínio e o consequente risco de contágio são factores que contribuíram para atirar Portugal para a lista dos países em risco, num universo composto por mais de 211 a nível mundial.

As conclusões do estudo referem-se ao ano de 2010, e resulta de uma avaliação da AON em conjunto com diversas entidades, como universidades, agências de 'rating', seguradoras e bancos de investimento. E se em 2010 era assim…

A Aon mediu o risco político de 211 países e territórios, baseado em inúmeros indicadores, designadamente impossibilidade de conversão de moeda e transferência de dinheiro, greves, motins e comoção civil, guerra, guerra civil, não pagamento da dívida soberana, interferência política, quebra na cadeia de abastecimentos e riscos legais e regulatórios.

Para já e por enquanto, na primeira linha dos que podem e devem sair à rua para dizer “basta” estão os 800 mil desempregados, os 20% que vivem na miséria e outros tantos que começam a ter saudades de uma... refeição.

Convenhamos que é muita gente a pensar com a barriga vazia.

Em certas áreas urbanas das grandes cidades, nomeadamente "as periferias das cidades de Lisboa, Setúbal, Porto as probabilidades de protestos são grandes", e não é só por uma "questão de austeridade, dificuldade do mercado de trabalho e do emprego", porque "já não é possível o estado social cobrir todas as funções que antes cobria", diz por sua vez José Vegar.

O investigador lembrou que uma das "principais reivindicações é que querem emprego, querem protecção, [mas] isso acabou e já não há", tendo as "pessoas de se qualificar, para terem mais acesso”.

E quanto mais qualificados são, digo eu, menos acesso têm. Isto porque, cada vez mais, os empregos não são para os que sabem mais, para os mais qualificados, mas para os que demonstram ter coluna vertebral amovível.

"Por muitas qualificações que as pessoas tenham hoje em dia, o acesso ao emprego não é automático, só os melhores vão ter acesso", diz José Vegar, certamente por nunca ter necessitado de enviar candidaturas a empregos.

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