O presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, António Saraiva, defendeu no passado dia 13 de Janeiro, em declarações à Lusa, que o Código do Trabalho devia sofrer alterações “enquanto a crise estiver instalada, nos próximos três anos”, para facilitar o crescimento económico.
Provavelmente tem razão. Penso que, por isso, deveria também incluir uma forma de suspender aqueles empresários, e não são tão poucos assim, que conseguem pôr as empresas em crise e as suas contas pessoais em manifesto crescimento.
“Não defendemos a alteração de todo o Código, mas para um período definido, enquanto a crise estiver instalada, nos próximos três anos, é preciso encontrar formas de o melhorar e optimizar, por exemplo nos contratos a prazo, encontrando uma limitação, um tecto para as indemnizações [em caso de despedimento] nos novos contratos”, disse António Saraiva.
Recorde-se, entretanto, que o anterior presidente da CIP considerou (28 de Maio de 2009) que o aumento dos despedimentos colectivos era consequência directa da lei que proíbe rescisões amigáveis .
Já nessa altura, como hoje e certamente como amanhã, Francisco Van Zeller esqueceu-se de dizer que muitos dos despedimentos, colectivos ou não, são consequência de muitos empresários terem uma clara vocação para tudo, menos para serem empresários.
Tal como com Francisco Van Zeller, também agora com António Saraiva, ninguém lhes pergunta porque razão há empresas a dar lucro e que optam por despedir ou, ainda, porque razão muitas empresas alegam dificuldades para despedir e logo a seguir admitem novos funcionários.
Será que a CIP não vê que Portugal está inundado de empresas geridas pelos filhos dos velhos patrões e que, devido ao facto de o dinheiro ter caído do céu, apenas sabem pensar com a cabeça que não tem nenhum neurónio?
Em declarações ao Jornal de Notícias em 17 de Fevereiro de 2009, Francisco van Zeller referiu que estava por provar que haja empresas a aproveitarem-se da actual conjuntura para encerrar.
À pergunta: “Há empresas com lucros elevados no ano passado e que este ano já anunciaram despedimentos por perspectivarem uma quebra dos resultados. Como comenta?”, Francisco van Zeller disse:
“É uma forma de gestão que sempre se usou e que se baseia no princípio de que os ajustes se devem fazer enquanto há dinheiro. Isso é a situação normal que sempre houve, porque em condições normais essas pessoas despedidas conseguiriam encontrar outro emprego. Na situação actual, parece-me um bocadinho mais vergonhoso. Mas as empresas têm uma grande capacidade de previsão e sabem se os contratos para daqui a seis meses já estão a falhar, podendo optar por começar já a dispensar pessoal para acertar as despesas. Tem de ser visto caso a caso e não se pode atirar pedras a empresas que estão muitas vezes a fazer o melhor que sabem e a tentar proteger os trabalhadores.”
Ou seja, segundo o então presidente da CIP, despedir quando há lucros é vergonhoso. Mas como vergonha é coisa que não consta do léxico de muitos dos empresários portugueses, vale tudo. E até, se necessário, é sempre possível contratar especialistas para provarem que não ter vergonha é uma qualidade (vidé os políticos).
Quando um grupo mistura no mesmo saco empresas que dão lucro com outras que não dão, certamente consegue um resultado favorável à tese do prejuízo, actual ou futuro. É fácil, barato e até dá milhões.
Engraçado foi ver nessa altura o presidente da CIP, no seu legítimo papel, dizer – e bem – que “não se pode atirar pedras a empresas que estão muitas vezes a fazer o melhor que sabem e a tentar proteger os trabalhadores”.
E é engraçado porque Francisco van Zeller sabia, melhor do que qualquer outro, que essas não são a regra, nem esse é o princípio basilar de muitas empresas que são geridas por quem só tem capacidade técnica, escolar, intelectual, para ser arrumador de carros. E mesmo assim...
Dito de outra forma, Francisco van Zeller sabia que basta ter dinheiro (com a origem do qual ninguém se preocupa) para ser empresário ou, pelo menos, para ser dono de uma empresa.
Francisco van Zeller também sabia, como sabe António Saraiva, que muitas empresas vão à falência embora, é claro, os seus donos continuem ainda mais ricos. Tal como sabia, embora não diga, que se tivesse de escolher, muitos dos seus “colegas” empresários não os queria nem mesmo para arrumar carros.
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