quinta-feira, setembro 01, 2011

Viver sem comer, morrer sem ficar doente

O Governo português vai decidir este mês o aumento das taxas moderadoras.

Aos portugueses é pedido que, para além do uso de velas (o IVA da electricidade passou de 6% para os 23%), morram o mais depressa possível para, assim, ajudarem a pôr o défice onde os donos do país querem. 

O aumento será superior à inflação, além da redução das isenções, mas as "pessoas de menores recursos" deverão manter-se isentas no acesso à saúde, anunciou o ministro da tutela. Não é certo, deverão. 

"Haverá menos isenções do que o número que existe actualmente, haverá também algum agravamento, designadamente diferenciado", uma medida que deverá ser decidida em Conselho de Ministros ainda em Setembro, afirmou o ministro Paulo Macedo, em entrevista ao Jornal da Noite, da TVI. 

Segundo o governante, uma das áreas onde o aumento das taxas poderá ser maior é no acesso às urgências. 

Acho muito bem. Se os portugueses já se estão a habituar a viver sem comer, bem poderão aprender a morrer sem ficar doentes. É tão simples quanto isso. 

"Como sabemos, hoje em dia, as taxas moderadoras não moderam o acesso às urgências. Não se moderou esse consumo", disse Paulo Macedo, que admitiu que as urgências são uma área em que poderão registar-se "alguns aumentos percentuais superiores". 

Sobre o valor do aumento das taxas moderadoras, o ministro lembrou que o que está previsto no memorando da 'troika' da ajuda externa "é um aumento das taxas moderadoras e depois um acompanhamento através da inflação". 

"Por isso", acrescentou, "o aumento das taxas moderadoras será superior à inflação". 

A subida dos valores cobrados aos utentes dos serviços de saúde "vai ter em conta o rendimento das pessoas" e "será um aumento diferenciado entre cuidados primários e hospitalares", disse ainda o ministro. 

Paulo Macedo adiantou que o projecto do seu ministério é que mantenham as isenções "as pessoas de menores recursos, designadamente desempregados e abaixo do salário mínimo nacional". 

Não percebo esta benesse do Governo. Se já têm o privilégio de estar desempregados, de ter menores recursos, porque carga de chuva haveriam de ter isenções para ir ao médico ou ao hospital? É que assim o país não vai lá. 

Essas isenções deveriam ser apenas para cidadãos trabalhadores que, como Américo Amorim, não são ricos. Esses sim, merecem.

Sobre o impacto esperado do aumento das taxas, o ministro escusou-se a especificar um valor: afirmou que "o aumento de proveitos não terá qualquer comparação com a redução de custos" no sector da saúde (estimados em 11% para o próximo ano) e acrescentou que o Governo espera "um valor mais substancial" do que os cem milhões de euros por ano de impacto actualmente.

Não é caso para os portugueses dizerem que estão entregues à bicharada. Isto porque a bicharada não gosta de se alimentar de corpos esqueléticos, famintos e em estado terminal.

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