“Os Estados Unidos vão garantir a assistência necessária para que todas as vozes do povo angolano sejam ouvidas na preparação das próximas eleições gerais em Angola”.
Quem o escreve, ipsis verbis, é a Lusa. Registo isso porque a agência oficial do regime português, irmão se sangue do angolano, fala na garantia para que todos sejam ouvidos na preparação das eleições. Se não me engano, preparar é uma coisa, participar é outra.
Diz também a Lusa, uma agência com altíssimos serviços prestados ao regime do MPLA, que a garantia foi dada hoje em Luanda pela subsecretária de Estado norte-americana para os Assuntos Políticos.
"É muito importante que Angola realize eleições e vou conversar com membros do governo, sociedade civil e partidos políticos para saber o seu ponto de vista sobre as eleições. Os Estados Unidos darão toda a assistência que for necessária para que todas as vozes sejam ouvidas e o povo de Angola tenha eleições onde as suas vozes sejam ouvidas", disse Wendy Sherman.
Bem vistas as afirmações, o que Wendy Sherman disse não é exactamente o que a Lusa escreve. Mas também é certo que a agência portuguesa está em Angola apenas para reproduzir o que o regime quer.
Mas falemos de eleições em Angola. Se os oitenta e tal por cento conseguidos nas eleições anteriores não chegaram para o MPLA se lembrar dos angolanos, creio que é bom que o povo lhe dê nas deste ano aí uns 110%.
110%? Sim, claro. E ninguém irá protestar. Aliás, muitos dos discursos de felicitações pela vitória do MPLA, paridos nos areópagos da política internacional, já devem estar escritos.
Todos se recordam, embora poucos se atrevam a dizê-lo, que o Presidente angolano, não eleito e há 32 anos no poder, José Eduardo dos Santos, disse no dia 6 de Outubro de... 2008, que o Governo ia aplicar mais de cinco mil milhões de dólares num programa de habitação que incluia a construção de um milhão de casas.
A construção de um milhão de casas para as classes menos favorecidas de Angola e jovens foi, aliás, uma das promessas da então campanha eleitoral mais enfatizadas pelo Presidente da República de Angola e do MPLA, partido que governa o país desde 1975.
José Eduardo dos Santos admitia, modesto como é, que "não seria um exercício fácil", tendo em conta que o preço médio destas casas, então calculado em cerca de 50 mil dólares. Apesar de tudo, com a legitimidade eleitoral de quem só não passou os 100% de votos porque não quis, assegurou que "já se estava a trabalhar" nesse sentido. Foi em 2008.
"O objectivo dessa estratégia é proporcionar melhor habitação para todos, progressivamente, num ambiente cada vez mais saudável", disse Eduardo dos Santos. Não sei se ainda alguém se recorda disso... Mas se não se recorda, este ano voltará a ouvir a mesma história.
Por ouvir ficará uma outra face do país. Ou seja: que 68% dos angolanos são afectados pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças.
Ou ainda: que apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico; que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade; que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Ou também que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos; que a dependência socioeconómica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.
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