sábado, março 24, 2012

O MPLA liderou não só a libertação de África, mas também (nunca se esqueçam) da Europa

De vez em quando o MPLA sente necessidade de tentar reescrever a história, julgando ser dono da verdade e fazendo dos outros autênticos matumbos.

Como todos sabem, e nem era preciso ser o MPLA a dizer, foi o partido de Eduardo dos Santos que construiu África e que, entre outras nobres causas, libertou a Europa do jugo do Hitler. Crê-se até que nos arquivos do regime existe o original da procuração passada por Deus a Agostinho Neto em que o nomeava o seu único representante na Terra.

Entre fronteiras continentais, o MPLA também foi decisivo para tudo. Segundo o tenente-general que em 2009 comandava a V Divisão das Forças Armadas Angolanas (FAA), estacionada na Região Militar Sul, António Valeriano, a guerra em Angola foi imposta pelo regime racista sul-africano de então.

"Esta postura visava a manutenção do status quo ocupacionista do território namibiano, retardando a independência do país, ao mesmo tempo que se perpetuava o regime de Apartheid na África do Sul, pois Angola assumira-se como trincheira a favor dos povos subjugados, tão logo adquiriu a sua soberania", argumentou o oficial-general.

António Valeriano explicou que no universo das grandes batalhas, a ocorrida no martirizado município do Kuito Kuanavale, em 1988, constituiu pedra de toque para a derrota do invasor, cuja estratégia visava o derrube da autoridade legalmente instituída, após 11 de Novembro de 1975, com a proclamação da Independência Nacional.

Esta da autoridade legalmente instituída deveria ter suporte, digo eu, nos Acordos do Alvor. Não foi assim. Mas também o que é que isso importa se o poder foi dado por Portugal ao MPLA, esquecendo que a FNLA e a UNITA também lá estavam? Lisboa nada mais podia fazer, de facto. Os portugueses não poderiam esquecer que foi o MPLA que ajudou o seu país a libertar-se de várias opressões, nomeadamente da espanhola…

Para António Valeriano, o exército governamental, no direito e obrigação constitucionalmente atribuídos, concentraram esforços na defesa da soberania e integridade da pátria e, naquela parcela do território nacional, infligiu baixas consideráveis ao invasor. E não terá mesmo conquistado Pretória porque os comandantes já estavam cheios de saudades da família.

Falar de exército governamental quando se tratava das FAPLA, braço armado do MPLA, e de militares estrangeiros, entre os quais russos, cubanos, portugueses e brasileiros, parece algo desonesto, pelo menos do ponto de vista intelectual. Só parece. Desde logo porque foram só soldados do regime que derrotaram tudo quanto lhes aparecia pela frente, desde hienas a mabecos. Aliás, o que se julgou serem soldados estrangeiros eram homens das FAPLA disfarçados para apanhar o inimigo com as calças na mão.

"Foi a bravura, heroicidade e sentido patriótico dos angolanos que vergou os racistas sul-africanos, levando-os a assinar o acordo de Nova Iorque, juntamente com Angola e Cuba, aos 22 de Dezembro de 1988", recordou António Valeriano, acrescentado que se pode então encetar "a descolonização da Namíbia, a abolição do Apartheid na África do Sul e, consequentemente, a regularização política total da região Austral do continente".

Heroicidade dos angolanos? Para começar, havia angolanos de um e do outro lado da barricada. Além disso, os angolanos das FAPLA foram apenas carne para os canhões utilizados por cubanos, russos e outros que tais. Não, não foi nada disso – reconheço. Os angolanos só estavam de um lado, os que estavam do outro eram da UNITA e esses, como todos sabem, não eram angolanos e ainda está por confirmar se eram mesmo pessoas.

Deixando de lado as diatribes do MPLA e a sua atávica degenerescência intelectual, registe-se que, ao contrário do que diz António Valeriano, a batalha do Kuito Kuanavale foi um rotundo fracasso para o MPLA/governo, por muito que digam o contrário, por muito que ponham os sipaios do regime a escrever algo diferente.

Os objectivos do avanço dos exércitos da coligação FAPLA, sobretudo mas não só russos e cubanos, eram desalojar a UNITA da mítica Jamba e empurrar os sul-africanos que encontrassem para a Namíbia ou mesmo para além da Namíbia.

Algum desses objectivos foi alcançado? A UNITA foi derrotada e expulsa da Jamba? Os sul-africanos que a apoiavam foram empurrados para a Namíbia? A resposta é não, não e não.

E quais foram as consequências desta tão violenta batalha?

Os cubanos retiraram de Angola, a África do Sul saiu da Namíbia e esta obteve a sua independência mas nas condições ditadas pelos sul-africanos (nenhum dos interesses económicos da África do Sul na Namíbia foram tocados, a Namíbia continuou dentro do sistema aduaneiro sul-africano, o porto de Walbis Bay continuou administrado pela África do Sul).

E quanto a Angola, quais foram os resultados da famosa batalha?

Primeiro o MPLA aceitou negociar com a UNITA, o que até aí tinha recusado, pelo meio ainda tentou de novo chegar à Jamba (operação que foi chamada "Último assalto" onde foi derrotado de novo), depois foi obrigado a admitir o pluripartidarismo e eleições, o que a UNITA pedia desde… 1975.

Em resumo o MPLA/governo angolano não atingiu nenhum dos objectivos e pelo contrário teve de aceitar as condições impostas pelos adversários no terreno.

O MPLA tenta transformar pela propaganda uma derrota em vitória visando três objectivos:

Tentar reescrever e mascarar a História, operação a que o MPLA/governo angolano recorre frequentemente, como ultimamente se tem provado.

Provocar a UNITA/oposição angolana, porque a uma ditadura dá sempre jeito que haja reacção violenta.

Dar, como já acontece, uma mãozinha ao Presidente do ANC, Jacob Zuma, que necessita de se agarrar a este tipo de populismo, e do dinheiro do petróleo angolano, para se manter na Presidência da África do Sul.

Foto: Helicóptero russo capturado na batalha de Kuito Kuanavale e usado pelas FALA (UNITA)

1 comentário:

Xavier disse...

Tem muitas verdades que se os angolanos soubessem,não sei o que seria do Zé Du e do se M.
Estar nesse blog é estar atualizado das realidades angolanas,tanto do passsado,quanto do presente.

Mwangolé,jikula ho messo;