Ao que parece, no sentido de fazer a caça sair da zona de conforto, o CDS quer que Rui Moreira seja o seu candidato à Câmara Municipal do Porto. Também ao que parece, Luís Filipe Menezes será o candidato do PSD.
Se forem estes os concorrentes, creio que o vencedor será Manuel Pizarro, potencial candidato do PS.
Quanto a Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, que notícias de hoje apontam como tendo já sido sondado por Paulo Portas, recordo-me que ele considera (ou considerava em 1 de Junho de 2011) que o F. C. Porto tem hoje em dia maior reconhecimento internacional do que o Vinho do Porto e que é um exemplo da inspiração que falta ao País.
Tem, com certeza, toda a razão. Aliás, quem tem aspirações políticas locais ou regionais (será mesmo o caso?) não pode dizer outra coisa, mesmo que pense de forma diversa.
De acordo com as mais recentes estratégias eleitorais, nomeadamente em relação à Câmara Municipal do Porto, nenhum potencial candidato pode passar sem ser visto nos camarotes VIP do Estádio do Dragão, se possível ao lado, ou a abraçar, Jorge Nuno Pinto da Costa.
A tese de Rui Moreira foi apresentada na tertúlia mensal do Clube dos Pensadores, que decorreu em Vila Nova de Gaia, e onde esteve presente também Manuel Serrão.
O tema em debate dizia, só por si, tudo o que se passa: "Futebol, Política e Norte".
Manuel Serrão estabeleceu comparações entre as temáticas da noite: "Na política, como antes se dizia do futebol, o jogo é sujo, está viciado e resolve-se nas secretarias, ainda por cima europeias".
Será por isso, permitam-me que ingenuamente pergunte, que nos tais camarotes VIP aparecem tantos políticos pigmeus?
Ainda segundo Manuel Serrão, "o F. C. Porto e o futebol em geral têm feito mais pelo País que os nossos políticos, afirmando-o em África, no Brasil, na Colômbia, numa série de sítios onde se fez festa com as últimas conquistas".
É verdade. Daí que, pergunto com nova dose de ingenuidade, seja tão relevante para os políticos, para alguns políticos, aparecerem juntos, juntinhos (não vá o operador de imagem cortá-los) ao presidente do FCP?
Quando em Portugal a televisão em sinal aberto transmite jogos de futebol, o que mais gosto de ver é as imagens dos ilustres protagonistas que, nos camarotes só reservados a gente importante, mostram como é que se agrada aos donos.
Quando no dia 4 de Outubro de 2010, o presidente do Futebol Clube do Porto disse em Olhão, Algarve, que “só os espíritos cretinos e obtusos pensam que receber um clube numa câmara é sinal de promiscuidade”, referia-se a um dos raros políticos lusos que nunca estiveram ao seu lado nesses camarotes: Rui Rio.
Pinto da Costa não perdeu nada com isso e Rui Rio também não. Aliás, os camarotes do Estádio do Dragão devem ser dos lugares onde se vêem mais políticos por metro quadrado.
Tenho dúvidas que todos sejam adeptos portistas, mas o que importa é estar ao lado de um campeão.
Voltemos, entretanto à cidade do Porto. O presidente da Câmara Municipal está, de há muito, ou seja desde a sua primeira campanha eleitoral para a autarquia, em rota de colisão com todos os interesses instalados.
É claro que, para além da simpatia maioritária dos cidadãos, conseguiu arranjar sarna para se coçar. Se até agora não havia socialista que se preze que não estivesse solidário com Pinto da Costa sempre que este ataca Rui Rio, começam a surgir na mesma linha os sipaios do PSD e do CDS.
Rui Rio não ganhou a guerra da moralização da vida pública. Sempre que olho (pela televisão) para os camarotes do Estádio do Dragão reforço a certeza de que Portugal é um país de aparências, de faz de conta.
Rui Rio quer (e bem, na minha opinião) que cada macaco esteja no seu galho. Futebol é futebol, política é política. Prioridades são prioridades. Cultura é cultura. Se assim não for, e há muito que não é assim, continuaremos a ter uma perigosa promiscuidade onde não se sabe quem é quem, quem representa o quê.
Aliás, como nos recorda a história, foi essa promiscuidade que fez com que o macaco acabasse por “comer” a mãe. Mas hoje nem isso é problema... desde que não se saiba.
De há muito que os portugueses se habituaram a ver os agentes da vida pública todos misturados numa orgia colectiva que, cada vez mais, mostra que a moralidade e a equidistância são valores pouco relevantes para um país que está acostumado a jogar no sistema de todos a monte e fé em Deus.
Para comprovar tudo isso nem é preciso apelar à memória (também ela um valor irrelevante na nossa sociedade), basta de facto – sobretudo em Lisboa e no Porto - olhar todas as semanas para as bancadas VIP dos estádios de futebol.
Políticos pigmeus e pigmeus políticos (entre outros) lá estão, a propósito de tudo e de nada, em bicos de pés para que todos os vejam.
Num país de aparências, que melhor montra poderá querer um qualquer político pigmeu ou um pigmeu político?
Dir-se-ia que, mais uma vez, não basta ser sério. Também é preciso parecê-lo. Mas, infelizmente, algumas das nossas figuras públicas nem são sérias nem parecem sê-lo. Nem estão, acrescente-se, preocupadas com isso.
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