domingo, março 25, 2012

Ministro que se preze estende a mão ao MPLA

O ministro das Finanças de Portugal está em Luanda. Vítor Gaspar foi ao reino de Angola reforçar os pedidos de ajuda feitos por outras (im)polutas figuras do seu país, casos de Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas, Miguel Relvas e Assunção Cristas.

Benemérito como é, o dono do reino angolano vai dar uma ajudinha, subindo os valores que constam da OPA (Oferta Pública de Aquisição) lançada sobre Portugal.

Do ponto de vista português, Cavaco Silva chama ao processo uma parceria estratégica entre Luanda e Lisboa. De facto, pouco importa o nome. Relevante é o dinheiro. Imprescindível é que o regime do MPLA compre Portugal.

Este constante corrupio de altas e belas (Assunção Cristas) figuras de Portugal em direcção a Luanda faz todo o sentido. Se  Portugal está à venda e há compradores... é a regra do mercado a funcionar.

Não creio, até pela amizade entre o governo português e o angolano, entre o PS, o PSD e até o CDS e o MPLA, entre quem precisa e quem tem para dar, que alguma vez Passos Coelho e Cavaco Silva utilizem uma espécie de “golden shares” para evitar a venda, em parte ou por atacado, do país aos poucos que em Angola têm muitos milhões.

Tirando o facto, perfeitamente irrelevante, de a maioria dos angolanos passar fome e de cada vez mais portugueses seguirem o mesmo caminho, tudo o resto é normal, como se vê pelos panegíricos bilaterais que caracterizam as visitas de Cavaco Silva, Passos Coelho, Miguel Relvas, Paulo Portas, Assunção Cristas e Vítor Gaspar à face A de Angola.

Quintas, vivendas, bancos, empresas, barragens, jornais, transportadoras etc. fazem parte do cada vez maior leque de interesses dos donos de Angola que, com o dinheiro roubado ao Povo (70% vive na miséria), olham para Portugal não como a árvore das patacas mas, isso sim, como o lugar ideal para esconder o dinheiro dessa árvore.

Ainda bem. Recorde-se aliás que, ao contrário do que quase todos os portugueses e angolanos pensavam, José Eduardo dos Santos é também, entre outras coisas, cidadão português. Não que isso o orgulhe, mas sempre facilita.

(Quem disse que o dono de Angola é português foi o ex-primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, quando afirmou que a venda de parte da Galp a José Eduardo dos Santos se deveu ao facto de não querer que a empresa fosse para mãos de estrangeiros...)

Tirando o facto, de somenos importância, de a maioria dos angolanos passar fome e de cada vez mais portugueses seguirem o mesmo caminho, é normal que os donos do poder (sobretudo económico) estendam as suas garras a outros países. E, como se nota, há cada vez portugueses a gostarem de ser comidos pelos angolanos.

E ainda bem que os donos de Angola consideram Portugal uma boa escolha. O reino luso a norte de Marrocos só tem a ganhar com estes investimentos. Depois de 500 anos de colonização, já era tempo de ser o colonizador a ser colonizado. De ser o colonizador a ir apanhar café e em troca receber fuba podre, peixe podre, panos ruins, 50 angolare e porrada se refilarem.

Tirando o facto, sem qualquer valor, de a maioria dos angolanos passar fome e de cada vez mais portugueses seguirem o mesmo caminho, importa acrescentar que a economia portuguesa está a ficar nas mãos da economia de alguns angolanos e, pelo andar do que é conhecido, um dia destes ainda vamos ter outras grandes surpresas.

Tirando o facto, só usado pelos críticos, de a maioria dos angolanos passar fome e de cada vez mais portugueses seguirem o mesmo caminho, Portugal assiste ao nascimento de novas estruturas empresariais, em quase todos os sectores – incluindo os da comunicação social – de modo a que seja mais fácil aos donos do poder em Angola dizer aos escravos portugueses como devem fazer as coisas para agradar ao colono angolano.

Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome e de cada vez mais portugueses seguirem o mesmo caminho, fico à espera de ver mais alguns (sim, que já há muitos) sipaios portugueses fazerem a vénia ao chefe do posto angolano porque se o não fizerem nem direito a farelo vão ter.

Quando era primeiro-ministro, José Sócrates disse, referindo-se a Angola, disse que era "um prazer poder assistir a um país com dinamismo, vibração, com entusiasmo e com consciência do seu futuro". Hoje, Passos Coelho diz o mesmo.

Na altura escrevi: Porra! Tanta bajulação até levanta suspeitas. Dinamismo? Vibração? Entusiasmo? Num país em que 250 crianças em cada 1000 morrem antes dos cinco anos de idade? Hoje digo o mesmo.

"Quero que o Governo de Angola saiba que temos confiança no povo angolano, que temos confiança em Angola, temos confiança no Governo angolano e no trabalho que tem desenvolvido", sublinhou em Julho de 2008 José Sócrates, só faltando ajoelhar-se e beijar os sapatos de design italiano de Eduardo dos Santos. Passos Coelho diz o mesmo em 2012.

De acordo com o então primeiro-ministro, esse trabalho tem "permitido que Angola tenha hoje um prestígio internacional, que tenha subido na consciência internacional e que seja hoje um dos países mais falados e mais reputados".

Tanto elogio feito, recorde-se por mera curiosidade, um dia depois de duas organizações não governamentais apresentarem uma queixa ao ministério público de Paris, contra vários chefes de Estado africanos, entre os quais o de Angola, acusados de corrupção e desvios de fundos públicos, dos quais uma boa parte “é reciclada” em França.

O chefe do Governo português disse nessa atura, no que é hoje corroborado por Passos Coelho, que "cada vez que Angola progride, evolui e melhora, isso enche de orgulho qualquer português".

Quem é que tem orgulho numa governação em que mais de metade da população não tem acesso a água potável e em que milhões de pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia?

Que os políticos portugueses (são raras as excepções) não sabem o que dizem e também não dizem o pouco que sabem, já todos sabemos. No entanto, pensava eu que eles teriam capacidade para se manter erectos junto deste tipo de ditadores. Não só me enganei como, mais uma vez, se verifica o gosto que têm em estar de cócoras e de joelhos.

E houve tempos em que Portugal deu luz ao mundo...

1 comentário:

ELCAlmeida disse...

Como dizia Carl von Clausewitz os países não têm amigos nem inimigos mas interesses a defender. Também os políticos fazem deste o seu adágio particular. E no caso dos portugueses, ainda mais...
Kandandu
Eugénio Almeida