O coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, António Chora, afirmou hoje à Lusa que o clima de confiança na sua empresa contrasta com o de muitas outras, onde há "patrões que não sabem ser gestores".
É verdade. Há patrões que nem sabem o que querem ser… a não ser ganhar milhões, dê por onde der, seja apostando nas pérolas negras do calor da noite ou em qualquer outro ramo comercial, horizontal ou vertical.
Candidato a um novo mandato na liderança da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, considera que há responsabilidades repartidas pela falta de diálogo entre trabalhadores e empresários, que acabam por dificultar o sucesso de muitas empresas.
"Na Autoeuropa há informação atempada à Comissão de Trabalhadores, há partilha de informação com os trabalhadores. Noutros lados há desconfiança mútua, há falta de informação aos órgãos dos trabalhadores, que, por sua vez, também desconfiam da empresa", disse. Embora reconheça que há empresas portuguesas que já têm uma gestão moderna, António Chora está convicto de que, em muitas outras, há "falta de diálogo".
Recordo-me que no dia 3 de Fevereiro de 2009, o então ministro do Trabalho e da Solidariedade Social de Portugal, ao estilo do Burkina Faso, dizia desconhecer que existissem empresas a aproveitar a crise para fazer despedimentos, como a CGTP entou denunciou, mas garantiu que, se de facto existirem, serão "sancionadas".
Em que país viveria então o ministro Vieira da Silva? O que leria este ministro? Certamente vivia no mesmo em que vive Pedro Miguel Passos Relvas Coelho e leria a mesma coisa.
Nessa altura, a Intersindical (liderada por Carvalho da Silva, hoje membro do Conselho Editorial do Jornal de Notícias, empresa do Grupo Controlinveste, que à época fez um inédito despedimento colectivo) acusou a generalidade do tecido empresarial nacional de se estar a aproveitar da actual situação de crise para prejudicar os trabalhadores, revelando que, depois de ter analisado cerca de 400 casos, concluiu que há encerramentos "fraudulentos".
Como aqui se tem dito (e é pena que os ministros só leiam os que deixam a coluna vertebral em casa), seria bom (caso Portugal fosse um Estado de Direito) que alguém visse o que andam a fazer os patrões, gestores ou administradores e não tivesse medo de os levar a tribunal por gestão danosa.
Nesse dia, o ministro Vieira da Silva salientou que, caso estas situações existam, têm de ser sancionadas e "o Estado deve utilizar todos os meios ao seu dispor para evitar que isso aconteça".
"É preciso identificar esses casos e os serviços em questão não deixarão de actuar", afirmou o então ministro do Trabalho, acrescentando que, no contexto da actual crise mundial, há um consenso para que as empresas portuguesas desenvolvam todos os esforços para não haver despedimentos.
Como se viu, como até Carvalho da Silva agora viu, a crise pode atingir as empresas mas passa ao lado dos empresários.
Segundo o então defensor dos trabalhadores e secretário-geral da Intersindical, Carvalho da Silva, havia um bloqueio na situação económica, que tem causas nacionais e internacionais, que é catalogado de crise e que essa crise é invocada por muitas empresas à custa dos trabalhadores.
"Não escamoteamos nem ignoramos problemas reais, que existem, que colocam hoje grandes desafios à gestão das empresas, mas o traço mais marcante da realidade económica portuguesa é de uma muito grande invocação instrumental da crise para impor medidas que não resolvem os problemas", disse o então líder da CGTP-In.
Acrescentou ainda que a preocupação das empresas está mais no aumento dos lucros do que na salvaguarda do emprego e adiantou que a CGTP estava a analisar cerca de 400 casos de empresas onde há situações de "aproveitamento" da crise que prejudicam os trabalhadores.
"Nesses 400 casos vemos deslocalizações oportunistas, ou seja aproveitar a crise para forçar uma deslocalização, vemos redução de postos de trabalho oportunistas, encerramentos e falências que cheiram a fraude por todos os poros, actuação unilateral de imposição de mecanismos que são violações das leis, vemos invocação da crise para não aumentar os salários dos trabalhadores e para transformar emprego estável em precariedade absoluta", denunciou o mesmo Carvalho da Silva.
Mas o melhor, enquanto o país não falir, é continuar a cantar e a rir, fingindo que Portugal é aquilo que não é: um Estado de Direito. E enquanto o pau vai e vem há sempre um lugar num qualquer Conselho Editorial.
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