A UNITA prefere ser salva pela crítica ou assassinada pelo elogio? É a ética que deve dirigir a política? As batalhas ganham-se ou perdem-se por causa dos generais ou por causa dos soldados?
Os resultados das últimas eleições (e tudo leva a crer que nas próximas será ainda pior) não revelaram propriamente uma derrota da UNITA. Foram, importa que todos o reconheçam, uma humilhação nacional e internacional. É claro que, como dizia o Presidente Jonas Savimbi, só é derrotado quem deixa de lutar. Seria, por isso, necessário que a UNITA continue a luta. Seria...
Mas a luta, a luta necessária em prol do povo angolano, não se faz contra travessas cheias de lagosta. Faz-se junto dos que, com alguma sorte, encontram mandioca nas lavras.
Embora seja ponto assente que houve fraude, manipulação e outros estratagemas por parte do MPLA, desde 1992 que se sabia que isso voltaria a acontecer logo que houvesse eleições. E se durante a guerra não foi possível pensar nisso, os últimos dez anos de paz deram, deveriam ter dado, tempo para que a UNITA se preparasse para o que já sabe que irá repetir-se.
E, mais uma vez, o exemplo deve partir de cima. Não basta que o Presidente Isaías Samakuva volte a assumir a responsabilidade política pela catástrofe. Ele tem, ou deve, dar o exemplo. Exemplo ético de quem mandou o seu “exército” pela picada errada pelo que, como em tudo na vida, deveria ter dado o lugar a outros.
Se em qualquer guerra, até mesmo nas muitas que a UNITA travou em prol dos angolanos, os generais que falharam foram punidos, a situação actual é, ou deveria ser, a mesma.
Aliás, se a UNITA responsabilizasse quem falhou, por muita honestidade que tivesse posto na luta, estaria a dar um bom exemplo aos angolanos para que estes percebessem que, afinal, existe uma substancial diferença entre a democracia que a UNITA defende e a que é imposta pelo MPLA.
É que, no tal contexto da ética, Samakuva e os seus pares não podem dizer que Eduardo dos Santos devia ser substituído porque cometeu muitos e graves erros (que de facto cometeu) e, apesar de terem também cometido muitos e graves erros, quererem continuar no poder como se nada se tivesse passado.
E se a UNITA quer, julgo que quer mesmo, ser diferente (para muito melhor, entenda-se) do que o MPLA, não pode usar a máxima “olhai para o que dizemos e não para o que fazemos”.
Importa igualmente recordar agora, e mais uma vez, que Samakuva (mesmo que tenha sido alguém por ele não o iliba) afastou da direcção do partido quadros que, na minha óptica, constituíam não só mas também a nata da UNITA. A tendência para substituir a competência pela subserviência deu no que deu. Uma catástrofe.
Terá sido por isso, estou em crer, que os subservientes colaboradores do Presidente o aconselharam a esquecer as zonas que eram, chamemos-lhe assim, afectas ao Abel Chivukuvuku (Lundas, Moxico, Namibe, Cabinda, Malange).
Chega agora a campanha eleitoral que, mais uma vez, revela a aposta em gente de boa vontade mas de nula competência ou experiência. Samakuva esquece-se, volta a esquecer-se, ou deram-lhe informações erradas, que a competência ou a experiência não se conseguem por decreto.
Vejam-se alguns exemplos que revelaram boa vontade mas que, na verdade, só serviram para que o MPLA comesse a UNITA de cebolada.
A campanha anterior, a da humilhação total, foi coordenada por Abílio Camalata Numa, secretário-geral, que da matéria pouco sabia pois, em 1992, integrava as Forças Armadas de Angola. Adalberto da Costa Júnior, que foi responsável pela informação, em 1992 estava em Portugal. Domingos Maluka, figura de destaque na campanha e vice-presidente da bancada parlamentar, era em 1992 militante da JMPLA. Aliás, o próprio Isaías Samakuva estava nessa altura em Londres
Lembram-se dos tempos em que o porta-voz UNITA-Renovada para a Europa, Baltazar Capamba, abriu caminho ao encontro, em Paris, entre o enviado do MPLA e Isaías Samakuva que, desde sempre, foi considerado por Eduardo dos Santos o político ideal para liderar a UNITA depois da morte de Savimbi?
Farto de ver a UNITA a auto-destruir-se, Abel Chivukuvuku parte para outra luta, liderando a Convergência de Salvação Nacional. Fá-lo porque entende que a UNITA não é uma força com a necessária dinâmica de vitória para enfrentar o MPLA nas próximas eleições. E tem razão.
A seriedade, honestidade e patriotismo da Samakuva não são suficientes para lutar contra uma máquina que está no poder em Angola desde 1975. Talvez Chivukuvuku também não consiga lutar taco a taco com o MPLA. Tem, contudo e na minha opinião, a vontade de partir a loiça sem temer levar com os estilhaços. Será um bom, embora tardio, princípio.
"Depois de ter avaliado o contexto que Angola vive - em que não está claramente visível que hoje somos uma alternativa ganhadora - e consultado vários colegas de direcção do partido e militantes, tomei a decisão consciente de candidatar-me com um único propósito: fazer da UNITA uma efectiva alternativa que possa ganhar as eleições em 2008 e instaurar em Angola um modelo positivo de governação”, afirmou em Janeiro de 2007 Abel Chivukuvuku.
A UNITA tinha de lutar por ser uma alternativa efectiva para 2008. Acomodou-se. Perdeu. Foi politicamente humilhada. Samakuva foi demasiado (para o meu gosto) passivo, demasiado politicamente correcto.
Em 2012 tudo está na mesma. A UNITA ter continua a ser liderada por alguém que é sério, honesto e patriótico mas que não consegue pôr o país a mexer, não temendo dizer as verdades que os angolanos querem ouvir, não temendo dizer quais são as soluções necessárias para que Angola deixe de ser apenas Luanda.
"Por norma eu não entro em coisas que não têm pernas para andar. E se as pessoas me viram a anunciar que sou candidato é porque houve um tempo de maturação, houve um tempo de análise, houve um tempo de estudo, houve um tempo de consulta, houve um tempo de preparação", dizia há cinco anos Abel Chivukuvuku.
Abel Chivukuvku não concorda que o MPLA seja um partido tão forte que lhe possa tirar o sono, pelo que considerava que a UNITA, sob a sua direcção, estaria em melhores condições de mobilizar a seu favor os 70% dos pobres que constituem a população angolana.
Não foi assim. Se assim tivesse sido, talvez Chivukuvuku conseguisse pôr os poucos que dentro da UNITA têm “milhões” a trabalhar pelos milhões que, também dentro da UNITA, têm pouco ou nada.
E no seu processo de extinção total, a UNITA continua nas mãos dos que considera seus filhos legítimos. De fora, mais uma vez, ficam muitos que só foram filhos legítimos enquanto Jonas Savimbi viveu.
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