O Presidente da República portuguesa escusou-se hoje a comentar se já arranjou meios de subsistência para pagar as suas despesas. Perdão. Recusou-se, isso sim, a comentar os regimes de excepção da TAP e da CGD aos cortes salariais.
Cavaco Silva argumentou que é ao Governo que compete executar a política geral do país. Para se saber o que ele pensa, os portugueses terão de esperar um ano e depois ler o prefácio do livro Roteiros VII.
“Há matérias que o Presidente da República não deve comentar em público porque não é executivo, de acordo com a Constituição é ao Governo que compete executar a política geral do país”, afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, em declarações aos jornalistas a quem, mais uma vez e perante a passividade total, passou novo atestado de estupidez.
Questionado se “os sacrifícios são ou não para todos”, Cavaco Silva insistiu que se trata de uma matéria que não quer, nem deve comentar em público. Não disse, mas certamente pensou, que os matumbos dos porta-microfones estão mesmo a precisar, como recomenda o seu conselheiro Fernando Lima, de ser domesticados.
“O Presidente da República não deve comentar em público decisões concretas do Governo”, reiterou o Presidente da República. Não percebi se o motivo de tantas repetições teve a ver com a cassete encravada ou, talvez, na vã tentativa de ensinar os perguntadores a estarem calados… a bem da Nação.
Quanto ao seu diferendo com José Sócrates, Cavaco Silva voltou a mostrar que nunca tem dúvidas e que raramente se engana. Explicou por isso o que diz o artigo 201 da Constituição: “O primeiro-ministro deve informar o Presidente da República de todas as iniciativas relevantes para a condução da política interna e externa do país.”
Nem mais. E como Sócrates não informou, Cavaco esperou pela melhor oportunidade para o desancar, mostrando que a vingança deve servir-se fria, bem fria, e sobretudo quando o visado já passou de bestial a besta. Antes disso, nunca. O Presidente pode ser carrancudo, vingativo, mas não é burro.
Segundo o Público, sobre a polémica que o texto suscitou, o Presidente atribuiu-a a “desinformação”, convidando os portugueses a ler o prefácio “na íntegra”. Recordou ainda ser prática de “todos os Presidentes” analisarem em livro “os aspectos mais relevantes do ano que passou”.
Ficamos, mais uma vez, a saber que enquanto os produtores de conteúdos não forem domesticados, há sempre o risco de deturparem o que o Presidente escreve. Assim sendo, o melhor é ler, na íntegra, o que Cavaco escreve.
Mas os portugueses só devem ler na íntegra o que Cavaco recomendar e quando recomendar. É que se forem agora ler o que ele disse noutras alturas… vão ver que é difícil encontrar coerência analítica e impossível descortinar qualquer laivo de pragmatismo.
Pelo sim e pelo não, já mandei reservar um exemplar do próximo livro, pedindo servilmente que seja autografo por Cavaco Silva e por Fernando Lima.
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