O Porto (Portugal) foi eleito o "Melhor Destino Europeu 2012" entre 20 cidades seleccionadas por um júri da Associação dos Consumidores Europeus.
Sim, é mesmo a cidade que é a capital do Norte, ou seja, da região com mais beneficiários a receber prestação de desemprego (126.558).
Quando desafiei um velho amigo e colega (um dos melhores Jornalistas que conheci), que também é um dos 1.200 mil desempregados do país, a votar no Porto, ele disse-me:
“Eu quero que a cidade do Porto se foda!”. Como na resposta eu dei duas alternativas (Fafe e Matosinhos), ele achou por bem esclarecer as coisas:
“Deixa-te de lérias, pá! Tu sabes muito bem o que é que eu quero dizer. Tenho 54 anos (exactamente cinquenta e quatro, só cinquenta e quatro e já cinquenta e quatro), estou desempregado, nunca mais na vida vou ter emprego - pior!, nunca mais na vida vou ter trabalho -, não sei se viva não sei se morra, e vou interessar-me pela elevação do Porto a uma merda qualquer? O Porto que me pôs no olho da rua?! Ou pensas que eu e tu tínhamos sido deitados fora como fomos se estivéssemos em Lisboa?”
Tem, mais uma vez, toda a razão.
De facto, pelo menos 181 jornalistas das redacções do Porto de vários órgãos de comunicação social perderam o emprego nos entre 2004 e 2009, 54 dos quais no despedimento colectivo do grupo Controlinveste.
Justificado pelo grupo de Joaquim Oliveira com a "evolução acentuadamente negativa do mercado" e a "profunda quebra de receitas", o despedimento abrangeu um total de 75 jornalistas do Jornal de Notícias (JN), Diário de Notícias (DN), O Jogo e 24 Horas.
Destes, 54 (23 no JN, seis no DN, 15 n' O Jogo e 10 no 24 Horas) nas redacções do Porto destas publicações.
No caso do jornal 24 Horas, em Janeiro de 2009, deixou mesmo de existir a delegação do Porto, com a saída de todos os jornalistas que a compunham.
Depois disso foram também "convidados a sair" três jornalistas da Rádio Regional de Lisboa (Rádio Clube Português), do grupo Media Capital, no Porto.
O esvaziamento das redacções do Porto, de vários órgãos de comunicação social, já vinha a acontecer há algum tempo, acompanhado do encerramento de publicações sedeadas na cidade, como O Comércio do Porto.
Este jornal, que era o diário mais antigo do país, foi encerrado em Julho de 2005 pelo grupo que então o detinha, os espanhóis da Prensa Ibérica, que acabou também com A Capital, um dos mais prestigiados títulos de Lisboa.
No caso d' O Comércio do Porto perderam o emprego 50 jornalistas.
Em 2003, a estação televisiva NTV, um canal regional do Porto criado em 2001 através de uma parceria entre a PT Multimédia e a RTP, dispensou também 25 dos 37 jornalistas contratados a termo certo, tendo acabado por desaparecer para dar origem à então RTPN , que absorveu os restantes profissionais.
Também em 2003 a Lusomundo Media/PT encerrou a redacção do Porto da revista Notícias Magazine, despedindo os quatro jornalistas que a compunham.
Em 2006 foi a vez de o jornal Público iniciar um processo de rescisões que resultou na saída de 11 jornalistas no Porto (incluindo os correspondentes de Aveiro, Famalicão, Braga e Vila Real), enquanto o semanário Expresso dispensou, em Junho de 2007, dois jornalistas na redacção da cidade.
A estes juntaram-se, em Agosto de 2008, mais 32 jornalistas de outros dos mais antigos diários portugueses, o portuense O Primeiro de Janeiro, alvo de um processo de despedimento colectivo.
Em 2009, contactado pela agência Lusa, o director da licenciatura de Jornalismo da Universidade do Porto, Rui Centeno, atribuiu este esvaziamento e até encerramento de várias redacções no Porto ao facto de "tudo estar centralizado em Lisboa".
"Como tudo se centra em Lisboa, dispensam-se os mais 'dispensáveis'", lamentou Rui Centeno, que associa também este "desinvestimento" à crise que se vive actualmente e à reestruturação que está a ocorrer nos grupos de comunicação social.
Essa reestruturação, nomeadamente em termos de convergência de meios, "terá repercussões em termos de empregabilidade", sublinhou Rui Centeno.
Enquanto responsável por um curso superior de jornalismo, Rui Centeno manifestou-se "muito preocupado" com a vaga de despedimentos.
Também para o director do Centro de Estudos de Comunicação da Universidade do Minho, Manuel Pinto, "as perspectivas que se desenhavam não são nada tranquilizadoras" .
"E não é preciso ser adivinho para ver borrasca no horizonte", escreveu Manuel Pinto numa terça-feira de Janeiro de 2009 (dois dias antes de ser conhecida a decisão da Controlinveste), no blogue colectivo "Jornalismo e Comunicação".
No 'post' intitulado "Borrasca no horizonte", Manuel Pinto apontava vários casos de empresas de comunicação social onde se previam despedimentos.
"Num ano de agravamento drástico da crise, um dos sectores que mais se ressente, vital para a viabilidade dos media, é a publicidade. Ora essa fonte decisiva de recursos da economia das empresas mediáticas está a secar a um ritmo que alarma os gestores. Não só na publicidade de agência, mas inclusivamente nos classificados", considerou.
No mesmo blogue e na sequência do texto de Manuel Pinho, o ex-jornalista e académico Joaquim Fidalgo considerou que "há, de facto, muita "borrasca" no sector dos media. E já não é apenas no horizonte previsível: ela aí está, muito concreta, a precipitar-se dramaticamente em cima das nossas cabeças...".
1 comentário:
Jornalistas! Vocês podem-se quase colocar ao mesmo nível que um amolador... E não estou a despeitar...
Se olharem para o actual estado da tecnologia e para a maioria dos "serviços de informação" dá a entender que apenas é preciso um "técnico web" para trabalhar numa destas empresas de prestação de serviços de informação... e a qualidade vem por aí abaixo, como facilmente se comprova em muitos jornais e revistas! Provavelmente ainda não é a maioria mas é a impressão que tenho vendo de fora, pois não sou da área nem estou muito por dentro dos assuntos da eventual reconfiguração que pretendem aplicar à função Jornalista... Se falhei em absoluto a análise leiga então desculpa.
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