domingo, novembro 15, 2009

As escutas do nosso (des)contentamento

“E todos os actores, desde juízes até aos jornalistas, que estão a contribuir para esta vergonha fiquem com a certeza de que o trabalho que estão a desenvolver é o melhor caminho para a destruição do Estado de direito”, afirma o meu amigo Alfredo Fontinha no “Viver Ramalde – Viver o Porto” (http://viverramalde.wordpress.com).

Entro na discussão pela parte que me dói mais – a dos jornalistas.

Os métodos utilizados pelo Governo na legislatura anterior revelaram-se eficazes em diversas frentes. A Comunicação Social foi uma delas. O êxito não foi total mas esteve perto.

Por interpostas pessoas (e por alguma razão se fala agora das conversas que supostamente o primeiro-ministro terá tido em relação à TVI e ao grupo proprietário de importantes jornais portugueses, sobretudo o JN e o DN) conseguiu pôr os jornalistas a pensar com a barriga, dando-lhes contudo – reconheço e saliento - duas alternativas: ou comem e calam e podem pagar a conta ao merceeiro e o empréstimo da cubata, ou não comem nem calam e vão para o desemprego.

Foi assim que funcionou. Será assim que continuará a funcionar? Pela forma como alguns jornalistas estão a ser catalogados, tudo indica que só será diferente se for completamente inexequível ser igual.

Aliás, são cada vez mais os jornalistas que descobrem que a única alternativa entendida (pela barriga) como viável é mesmo comer e calar, apostar numa coluna vertebral amovível e numa cabeça subordinada à barriga.

Ao preferir ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica, o Governo comprou lealdades. Esqueceu-se, contudo, que lealdade comprada é apenas sinónimo de traição.

Traição de muitos supostos jornalistas que às segundas, quartas e sextas são do PS, às terças, quintas e sábados do PSD e ao domingo piscam o olho aos outros).

E são esses supostos jornalistas, bem como o seus donos, que apostam tudo, sobretudo o que é dos outros, na razão da força que é alimentada pela impunidade. Com a cobertura, mesmo que involuntária, de muito boa gente, levam a que a força da razão perca batalhas e mais batalhas.

Ao contrário do que cheguei a pensar, esses mercenários (trabalham para quem pagar mais) não só estão a ganhar batalhas como poderão vencer a própria guerra. Não lhes falta apoio de quem, ao seu estilo, se está nas tintas para a liberdade de expressão, para a democracia, para as regras de um Estado de Direito.

Para gáudio dos donos dos jornalistas, e dos donos dos donos dor jornalistas, Portugal parece dar-se bem com toda esta mixórdia.

Quando se prefere ter correligionários néscios do que adversários inteligentes, quando se compra a fidelidade de mercenários, o resultado está à vista: a própria a democracia está em perigo.

“O momento que vivemos é muito grave e não pode fazer descansar todos aqueles que lutaram por viver num País democrático”, afirma com toda a razão Alfredo Fontinha, acrescentando que “há gente, aos mais variados níveis, interessada em minar o regime e, conscientemente ou não, fazer regressar a um Estado totalitário”.

O Alfredo Fontinha tem razão. Importa, contudo, não esquecer que é o próprio regime democrático que está a fornecer aos seus inimigos a corda com a qual será um dia destes enforcado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Grande Orlando!
Se a grande maioria do portugueses lesse o livro "Como Me Tornei Estúpido", de Martin page, talvez percebesse bem a profundidade do que está a acontecer com a nossa Democracia! Mas a TV!... maravilha!...

Anónimo disse...

Boas.
1º-Se é para regressar ao Estado totalitário não nos deve admirar porque o 25 de Abril foi uma falácia do tipo "sai tu para eu ficar". Os membros do regime não se reformaram e "andem aí".
2º-Sobre a liberdade de imprensa, se este ano ficámos ao nível do Malí, o mais certo é no próximo estarmos ao nível da Nigéria, Angola ou Zimbabwe.

Triste povo aquele que tanto teme a verdade, porque os Portugueses parecem esquecer que sem esta jamais terão liberdade!