terça-feira, novembro 24, 2009

Olho por olho, dente por dente?

Dizem-me alguns amigos (dos poucos que restam) que é preciso repor a decência na vida portuguesa, seja ela política, empresarial, judicial e até pessoal. Concordo. Só não sei como é possível repor uma coisa que há décadas não existe. E pelos vistos são muitos que também não sabem.

É claro que a decência (mais do que limpo e asseado deve significar honesto, decoroso) evitaria muitos dos males recentes de um país que foi Pátria e que agora se afigura mais a um lugar (muito) mal frequentado.

Portugal vive agora, como sempre viveu nas últimas décadas, uma realidade marcada pela corrupção, pela promiscuidade entre a política, a economia, a justiça, o desporto etc. Agora é mais visível apenas pela simples razão de que o actual poder político quis ser mais papista do que o Papa e pensou ser possível comprar todos os jornalistas por atacado.

Os seus antecessores, tanto do PSD como também do PS, limitavam-se a comprar o essencial, deixando válvulas de escape para o acessório. E o país ia vivendo com esse acessório no convencimento de que era o essencial.

Durante décadas era uma espécie de Fátima, Futebol e Fado. O povo estava entretido, tinha o essencial para viver e lá ia cantando e rindo. Ao permitir que a válvula de escape da sociedade, protagonizada por uma numericamente expressiva classe média, desse o berro, o Governo provocou a implosão da própria sociedade.

E dos cacos que vão sobrando dessa implosão é difícil restabelecer qualquer clima de confiança nas instituições e, muito menos, nos seus arautos ou artífices. Os portugueses sabem que o critério, que deveria ser sagrado para dirigir as instituições, não é o da competência mas, antes e sobretudo, o da subserviência.

E sabendo isso por exeperiência própria, dificilmente voltarão a acreditar num país que vive no sistema de todos a monte e fé no Estado, que o importante não é ser mas parecer.

E como se tudo isso não fosse mais do que suficiente, transparece a ideia de que há cidadãos que estão acima da lei, vingando a tese de que o crime compensa. E quando tal acontece, lá vamos todos defender a estratégia de olho por olho, dente por dente.

E se assim for, o resultado não estará à vista porque vamos ficar todos cegos e... desdentados.


Nota: Texto também publicado em:

1 comentário:

Anónimo disse...

Grande texto Orlando!
Isto hoje chegou à pantomina ou macacada, de um dito fundador da "democracia" em Portugal, Mário Soares, ter vindo dizer á TSF que estava muito preocupado com o PSD.
Entretanto ouvi o Fórum sobre o tema puxado pelo criminoso do Victor, o tal do cargo espectacular no Banco de Portugal, de que deveriam ser aumentados os impostos. Ouvi de tudo, desde "venha o caos" "é preciso uma Revolução", "vou começar a roubar a partir de agora para comer", "onde está o exército? porque não nos ajuda?". É incrível como as maiorias votam e depois é isto! Que se fermentem ódios ao ponto de uma Revolução, ainda tenho uma certa esperança, mas é como eu digo, a classe média mais abastada está-se marimbando, enquanto estiverem bem... Quando lhes tocar a eles, pode ser que isto leve mesmo uma volta. Acredito que a decência neste país de egoístas possa ser real, mas para isso a classe média alta tem de ficar pobre. Ora se eles vivem para "roubar" os pobres... será difícil.
Isto é um beco sem saída!
Ouvi neste momento que aumentaram outra vez a electricidade, quase 3%! Já era a mais cara da Europa... os outros países aumentaram 1%! Vai bom para as energéticas... os tais que roubam legalmente.
Ouvi também hoje, através de uma participante online no Fórum, que os milionários alemães pediram ao governo para serem mais taxados, para ajudar na crise! ainda não se esqueceram da crise de 1929, a guerra consequente...nós aqui, andamos a brincar com o fogo!
E que venha o fogo, tipo queimada a ver se este País sai depurado!
Cambada de criminosos à frente de um País e todos os que rodeiam, os defendem e daí tiram proveito!
Abraço.