A guerrilha em Cabinda reivindicou a morte de sete militares angolanos durante um ataque contra uma viatura da Forças Armadas de Angola, onde um general terá sido ferido.
Tanto quanto se sabe, e sempre assim foi, os militares morreram num mero acidente de automóvel quando passeavam pela calma e de há muito pacificada estrada que liga as vilas de Buco-Zau e Dinge. Aliás, como também é óbvio, o general feriu-se apenas quando tropeçou ao sair da viatura.
Tal como disse quando, em Setembro, a FLEC reivindicou a morte de 12 soldados da força ocupante (Angola), Luanda mantém que o território está pacificado desde a assinatura do Memorando de Entendimento de Agosto de 2006, que envolveu o Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), de Bento Bembe, e outras associações, mas não a FLEC de N´Zita Tiago.
Mas, tal como em Setembro, o MPLA vai acabar por ser obrigado a admitir que ocorrem, mesmo que diga que são esporádicas, mortes entre os soldados angolanos.
É claro que, utilizando velhas técnicas, Luanda vai dizer que essas mortes se devem a acidente de viação ou de outras situações, como zaragatas e banditismo, esclarecendo que a FLEC "aproveita para empolar" numa tentativa de fazer passar a ideia para a comunidade internacional de que está activa.
Mas como se apanha com mais facilidade um mentiroso do que um coxo, recordo que o ministro da Defesa de Angola, Kundi Paihama (na foto durante uma visita aos eternos amigos da Coreia... do Norte), reconheceu no dia 20 de Abril deste ano, em Lisboa, que há militares da FLEC que ainda não "abraçaram a razão", e que por isso “continuam a fazer da luta armada uma forma de sobrevivência”.
“Abraçar a razão” significa, de acordo Kundi Paihama, ser e estar com o MPLA.
"Ainda há restos das forças, pessoas das FLEC, que não abraçaram a razão, mas não se trata de qualquer força que possa impedir o curso da situação. São grupos de pessoas manipuladas por interesses que já conhecemos", disse na altura Kundi Paihama numa conferência de imprensa com o seu homólogo português.
Assim, em Angola existe um dono da verdade – o MPLA. Tudo o resto são angolanos de segunda que não têm direito a defender o que pensam ser também a verdade. Por outras palavras, tanto os cabindas como os angolanos têm de comer e calar se não quiseram que Kundi Paihama os considere manipulados.
Cabinda é um território ocupado por Angola e nem a potência ocupante como a que o administou pensaram, ou pensam, em fazer um referendo para saber o que os cabindas querem. Seja como for, o direito de escolha do povo não prescreve, não pode prescrever, mesmo quando o importante é apenas o petróleo.
É claro que tanto Angola como Portugal apenas olham para Cabinda como um negócio altamente rentável. Se o território fosse um deserto, certamente já seria independente. Mas, ao contrário das teses de Luanda e Lisboa, Cabinda não é só petróleo. É sobretudo gente, pessoas, povo, história e cultura.
Segundo Lisboa, no actual contexto geopolítico, Cabinda é Angola. Amanhã, mudando o contexto geopolítico, Portugal pensará de forma diferente. Ou seja, a coerência é feita ao sabor do acaso, dos interesses unilatreiais.
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