A FRELIMO, partido no poder em Moçambique desde a independência, confunde-se "historicamente com o Estado" e "ocupa e controla o espaço político", estabelecendo uma "barreira difícil de transpor" aos seus adversários.
Esta análise é do investigador Luís de Brito, do IESE, Instituto de Estudos Sociais e Económicos de Moçambique e surge a propósito das eleições gerais realizadas na semana passada as quais, segundo dados provisórios, a FRELIMO ganhou com esmagadora maioria, ficando a RENAMO (oposição) com menos de metade dos 90 deputados que tinha e o MDM (novo partido) com oito deputados.
Numa análise preliminar às eleições, o investigador afirma que o processo eleitoral deste ano merece atenção porque "decorreu num ambiente particularmente polémico, devido a decisões controversas tomadas pela CNE", (Comissão Nacional de Eleições, que excluiu das eleições uma dezena de pequenos partidos, incluindo o MDM na maior parte dos círculos, alegadamente por deficiências nas candidaturas).
Luís de Brito limita-se a constatar o que há muito tempo é dito, entre outros, em blogues como aqui o Alto Hama ou o Pululu, bem como no Notícias Lusófonas que numa das suas últimas manchetes escrevia: «Votar é igual a democracia? Então viva a FRELIMO, o MPLA, a SWAPO e o ANC».
Aliás, o mesmo se passa em Angola onde o Estado é o MPLA e o MPLA é o Estado.
Apesar disso, mesmo sabendo-se que os observadores internacionais às eleições moçambicanas (tal como se passara com as angolanas) foram escolhidos à medida e por medida (a missão da União Africana foi chefiada pelo especialista angolano Roberto de Almeida, por sinal actual vice-presidente do MPLA), todo o mundo continua a dormir descansado.
Apesar dos avisos, só vão acordar quando a UNITA ou a RENAMO decidirem (se é que alguma vez o vão voltar a fazer) dar a palavra às Kalashnikov.
Nessa altura será tarde. Mas se calhar é isso mesmo que a comunidade internacional está à espera. É que, como em tudo, será sempre tarde apenas para os milhões que têm pouco ou nada.
Para os poucos que têm milhões (chamem-se Eduardo dos Santos ou Armando Guebuza) há sempre tempo para tudo.
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