domingo, novembro 01, 2009

MPLA precisa de mais 30 anos no poder

“O MPLA, tal como no passado, continuará a fazer tudo quanto estiver ao seu alcance para reforçar o Estado Democrático e de Direito e garantir aos angolanos a construção de uma pátria em que cada um se reveja e sinta prazer em viver”, dizem sistematicamente os dirigentes do partido que está no poder em Angola desde.... 1975.

Dizem igualmente os donos do poder desde a independência que se comemora no próximo dia 11, que o processo de reconciliação nacional, que continua a decorrer de forma sólida, permite que os angolanos acreditem no futuro e tem constituído um factor importante para a consolidação da economia e o seu notado crescimento, viabilizando o processo de reconstrução nacional e a paulatina melhoria das condições de vida dos angolanos.

Acrescentam igualmente os que dominam o país há 34 anos que a paz tem permitido aos angolanos o usufruto do direito a segurança, a estabilidade e a livre circulação em todo o território nacional.

Por outro lado, ainda segundo os vencedores, a paz tem facilitado o processo de reconstrução e de criação de infra-estruturas para o desenvolvimento, o que tem sido constatado de forma entusiasta por todos os cientes, não tanto pelos angoanos (digo eu).

Esta confiança, diz o MPLA, assenta na convicção de que os angolanos serão capazes de reconstruir a Pátria, propiciando a criação de condições que permitam erradicar a pobreza e promover o desenvolvimento e o bem estar dos angolanos.

Há sete anos que o MPLA deixou de ter desculpas. Diz que é pouco tempo. Diz também que o facto de estar há 34 anos no poder não conta porque a maior parte desse tempo o país esteve em guerra.

Então, sem guerra e com o petróleo a jorrar por todos os cantos e esquinas, quantos mais anos serão precisos para que, entre outras coisas, a maioria dos angolanos deixe de viver na miséria?

Angola é actualmente o maior produtor de petróleo na África subsaariana, depois de ter ultrapassado a Nigéria, com um aumento de 18 por cento da sua produção em 2007, em média, estando actualmente a produção angolana próximo dos dois milhões de barris por dia... e com 68% da população na miséria.

O MPLA não diz quantas mais décadas serão precisas para os angolanos deixarem de viver na miséria. Creio, contudo, que serão precisos muitas e muitas. Se, em sete anos, o MPLA ainda não conseguiu dar os primeiros passos para integrar os angolanos de segunda (todos os kwachas)...

“O nosso coração não pode estar em paz enquanto virmos irmãos sofrerem por falta de alimento, de trabalho, de um tecto ou de outros bens fundamentais", disse o Papa, na cerimónia de despedida no aeroporto de Luanda. Ninguém do MPLA conseguiu perceber o que o Papa disse...

Demore o tempo que demorar, o MPLA terá sempre a solidariedade de Portugal. Creio, aliás, que o MPLA possui algum tipo da kazumbiri que tolda a inteligência dos políticos portugueses. Ou é apenas uma questão de dólares, de macro-economia, de Sonangol e similares (Eduardo dos Santos & Família SA)?

De facto, como há já alguns anos dizia o Rafael Marques, os portugueses só estão mal informados porque querem, ou porque têm interesses eventualmente legítimos mas pouco ortodoxos e muito menos haminitários.

Custa a crer, mas é verdade que os políticos portugueses (há, é claro, excepções) fazem um esforço tremendo (certamente bem remunerado e distante de qualquer operação “face oculta”) para procurar legitimar o que se passa de mais errado com as autoridades angolanas.

Alguém, pergunto eu, ouviu José Sócrates, Manuela Ferreira Leite ou até mesmo Cavaco Silva recordar que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças?

Alguém os ouviu recordar que apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico?

Alguém os ouviu recordar que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade?

Alguém os ouviu recordar que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?

Alguém os ouviu recordar que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino?

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