“A nossa preocupação não é levar para o Governo amigos, colegas ou parentes, mas sim os mais competentes. Isto não é desconfiança sobre o partido, mas sim a confiança que o partido pode dar à sociedade”, afirma – pelo menos por enquanto, o primeiro-ministro de Portugal.
Pedro Passos Coelho garante que as nomeações seguirão o critério da competência das pessoas, “sejam ou não do PSD”.
Numa altura em que quase todos fogem sem pensar, parece que Passos Coelho pensa sem fugir. Ele tem, contudo, uma enorme vantagem. Não é obrigado, como cada vez mais acontece com os competentes, a pensar com a barriga... vazia.
Será desta que, em Portugal, veremos trabalhadores, administradores, gestores, políticos, a serem avaliados de forma objectiva e imparcial, sem que para essa avaliação conte o cartão do partido, os jantares com o chefe ou a prenda de anos no aniversário do director?
Cada vez mais, em Portugal, a competência é (ou tem sido) substituída pela subserviência, não adiantando instituir do ponto de vista legal o primado da transparência quando toda a máquina é constituída por agentes opacos.
O tecido político, sobretudo na sua vertente da governação, está a mudar? Está. Durante muitos anos as decisões pareciam sérias mas não eram. Passou-se depois para a fase em que não pareciam nem eram.
Até agora, nas empresas do Estado e nas privadas, nos organismos públicos e na actividade política, o ambiente é (ou era, fica o benefício da dúvida) de valorização exponencial do aparente, do faz de conta, do travesti profissional que veste a farda que mais jeito dá ao capataz.
Até à chegada do novo governo a ordem oficial era para apoiar, basta ver o exemplo do ex-chefe do reino socialista e dos seus vassalos, todos aqueles que às segundas, quartas e sextas elogiam o chefe, às terças, quintas e sábados o director e ao domingo esboçam elogios a quem pensam que possa vir a ser chefe , director ou primeiro-ministro.
Esperemos, entretanto, para ver se com o novo governo PSD/CDS a coisa vai ser de facto diferente. Não creio. Mas, claro, não custa dar o benefício da dúvida, nem que seja para um dia destes concluir que, mais uma vez, em Portugal ninguém vai querer saber que o “stradivarius” que julgam ter é, afinal, feito com latas de sardinha e foi comprado na Feira da Vandoma, no Porto.
Pelo meio deste circuito aparecem sempre os sipaios que acalentam a esperança de um dia serem chefes de posto e que, no cumprimento de ordens superiores, passam ao papel tudo o que o chefe manda, mesmo que no lugar da assinatura tenham de pôr a impressão… digital.
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