Também em Portugal basta ter dinheiro para ser dono de um jornal e, é claro, para ditar as regras, para lá mandar pôr (com a servil anuência do director, escolhido a dedo em qualquer prostíbulo do calor da noite) o que muito bem entender, sejam as fotografias da sogra, do rafeiro ou da amante.
Importa, por exemplo, não esquecer que os Jornalistas (se é que essa espécie ainda existe) não se podem opor a “modificações formais introduzidas nas suas obras” pelos seus superiores hierárquicos (os tais), mesmo que estes tenham surgido das mais aviltantes e putrefactas sarjetas.
Essa coisa do direito à liberdade de criação e do direito à liberdade de expressão é algo, convenhamos, que não se encontra nas sarjetas onde muitos deles fizeram a sua formação, certamente como brilhantes cidadãos-jornalistas.
Em Portugal, por exemplo, é possível ao capataz pôr tudo do avesso e atribuir essa estratégia a um autor que, afinal, nada tem a ver com a questão.
Tudo isso porque o Estado concede, e o patrão agradece, expressamente à estrutura hierárquica das linhas de montagem a faculdade de alterar, sem consentimento do autor, os trabalhos originais criados, desde que aquela invoque, "designadamente", "necessidades de dimensionamento (...) ou adequação ao estilo" do órgão de informação.
Em síntese, e por uma questão de “adequação ao estilo”, será possível (quase) tudo, desde adulterar até manipular, passando pela censura e terminando na nova regra de ouro: comer e calar.
Os Jornalistas (se é que essa espécie ainda existe), mais do que informar, mais do que formar, têm de vender. Vender, vender sempre mais. E quem sabe o que fazer para melhor vender não são, na maioria dos casos, os jornalistas.
Os Jornalistas (se é que essa espécie ainda existe) são os montadores que, de acordo com o mercado, com os seus donos e com os donos dos seus donos, alinham as peças de um crime, de um comício, de um atentado ou de um buraco na rua. Se o que vende é dar uma ajuda ao partido do Governo para que este ganhe as próximas eleições, são essas as peças que têm de montar, nada contando a teoria da isenção que é tão do nosso teórico agrado.
Se o que vende é divulgar os produtos da empresa «X», são essas as peças que têm de montar, passando por cima do facto de essa empresa eventualmente não pagar os salários aos seus trabalhadores, promover criminosos despedimentos ou apostar no trabalho infantil.
Se o que vende é dar cobertura às ditaduras, são essas peças que têm de montar, calibrando-as da forma a parecerem dos melhores exemplos democráticos.
Pouco importa tudo o resto.
Assim sendo, as linhas de montagem não precisam de jornalistas 24 horas por dia, basta-lhes as sete horas. E aos jornalistas basta-lhes, ao que parece, uns tantos euros por mês...
Tudo o resto são cantigas, tenha a classe uma Ordem ou apenas, como agora, um Sindicato, uma Caixa dos Jornalistas ou coisa nenhuma. Tenha o país um governo eleito ou não, seja ou não uma democracia, chame-se Portugal ou Burkina Faso.
O que é que tudo isto tem a ver com Rebekah Brooks, a rainha dos tablóides britânicos? Tudo e nada. Depende da perspectiva ser vertical ou horizontal…
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