Renato Sampaio, presidente da distrital do PS no Porto afirmou hoje, segundo o JN, que o partido precisa rapidamente de reajustar a sua organização para se tornar mais transparente.
Mais transparente? Boa. De facto, a começar pela distrital do Porto, estava muito opaco.
"Acho que o PS precisa rapidamente de construir alguns reajustes na sua organização, nos próprios estatutos de forma a tornar-se um partido mais transparente, mais aberto à sociedade e o que eu espero é que, a partir de agora, tenhamos as condições de fazermos oposição a este Governo de direita", disse Renato Sampaio, a poucas horas da reunião do secretariado da distrital, durante a qual vai decidir a sua continuidade enquanto dirigente.
Porém, Renato Sampaio quis sublinhar que qualquer decisão que venha a tomar "não tem rigorosamente nada a ver com as eleições para secretário-geral do partido", mas sim com a leitura que faz dos "acontecimentos dos últimos dois anos, do último ano em especial", em referência às legislativas. Já não era sem tempo…
Recordo que Renato Sampaio apresentou há um ano (14 de Junho) o livro “Oposição a Norte” que, no seu entender, é (ou era) “uma homenagem à região”, considerando que “falta coragem” às pessoas para escreverem o que pensam.
No passado dia 8 de Junho, perguntei aqui se perante a banhada do PS no distrito do Porto, não será “falta de coragem” manter-se agarrado ao lugar, não seguindo o exemplo do seu “querido líder”?
Renato Sampaio continuou no lugar, eventualmente à espera do resultado da sua declaração de apoio à candidatura de Francisco Assis, agora derrotado por António José Seguro.
Essa de um socialista dizer que “falta coragem” às pessoas para escreverem o que pensam... não lembraria ao Diabo. Mas, é claro, lembrou a um dirigente socialista que sabe bem que, com o seu PS no Governo, dizer o que se pensava (quando isso não coincidia com as ideias do dono do partido) era mais de meio caminho andado, entre outras consequências, para o desemprego.
“Às vezes falta alguma coragem às pessoas para escreverem, porque assim nunca são confrontadas com essas opiniões. É muito fácil, muitas vezes, omitir, ignorar, mas eu não tenho esse tipo de problemas. Acho que nós devemos dizer o que pensamos a cada momento, mesmo que muitas vezes nós próprios evoluamos num sentido ligeiramente diferente”, afirmou.
Que bonito! Falso, mas bonito. Renato Sampaio sabe que o ex-líder do seu partido, tal como ele próprio, preferiu ser assassinados pelo elogio do que salvos pela crítica. Sabe que entre um génio e um néscio com o cartão do partido, o PS nacional como o distrital escolhia o néscio. Sabe que todos os que ao longo dos anos, nomeadamente na comunicação social portuguesa, escreverem coisas como estas porque assim pensavam... fazem hoje parte dos 800 mil desempregados que o país tem.
É por isso que para mim é confrangedor o culto ao chefe por parte dos socialistas. Eu sei que a todo o momento (basta o chefe deixar de o ser, como aconteceu a José Sócrates) podem mudar de barricada. Mas, mesmo assim, tenho alguma dificuldade em entender como é que socialistas inteligentes continuam de cócoras e, parafraseando Renato Sampaio, têm “falta coragem para escreverem (ou dizerem) o que pensam”.
Também me custa a aceitar (cada vez menos, é verdade) que Portugal seja uma espécie de país onde os que dizem sempre que sim são bestiais e, é claro, onde os que só dizem que sim quando devem dizer que sim, são umas bestas.
Não é assim? Sócrates deixou o poleiro do governo e do partido e logo se viu que, afinal, havia muitos socialistas que até achavam que o primeiro-ministro tinha, no mínimo, conhecimento de um plano para controlar órgãos de comunicação social.
Embora seja uma prática corrente nas ocidentais praias lusitanas, alguém com alguma sanidade mental duvida que os governos de José Sócrates foram os que mais trabalharam para que os jornalistas fossem formatados, com ou sem chip, consoante os interesses (económicos, políticos e similares) dos donos do Poder?
Recordam-se, por acaso, de quem disse que "Sócrates reduz a política à sua pessoa"? Não. A frase não é minha, embora reflicta a minha opinião. Aliás, de há muito que aqui digo (aqui e onde posso, sendo que não posso em todos os sítios que gostaria por obra e graça de alguns socialistas) que o ex-primeiro-ministro de Portugal tinha todas as características de um – para citar José Lello – foleiro ditador.
Alguns dirão que só quando chegou ao poder é que a enfermidade foi conhecida. Pois é. E o que fizeram para alterar isso? Nada. Limitaram-se a segurar com unhas e dentes os tachos, bajulando o “querido líder” enquanto ele o foi.
Num artigo de opinião do jornal Público há para aí quatro anos, intitulado "Contra o medo", Manuel Alegre criticava "a confusão entre lealdade e subserviência" que, segundo o socialista, se verificavam no Governo de José Sócrates. Recordam-se?
"Há um clima propício a comportamentos com raízes profundas na nossa História, desde os esbirros do Santo Ofício até aos bufos da PIDE", escreveu Manuel Alegre, acusando o Partido Socialista de "auto-amordaçar-se".
Renato Sampaio disse que apoiava Francisco Assis por estar “convencido que é o melhor líder para o PS” e quem “melhor serviria os interesses do PS no próximo círculo político, porque é um líder que também tem uma ideia para o país e um projecto para o PS”.
Cá para mim, que continuo a ter coragem para dizer o que penso (mesmo contra a vontade de muitos socialistas), Renato Sampaio apoiava Francisco Assis por uma única razão: estava convencido que ele ia ganhar.
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