Nem os jornalistas dizem que são jornalistas. Isto porque, cada vez mais, são criados para todo o serviço, às ordens das diferentes majestades do reino.
Recordam-se de o governo nepalês querer usar jornalistas como informadores? Ou das forças de segurança de Israel se disfarçarem de fotojornalistas para melhor identificar manifestantes?
Nessa matéria, Portugal (mesmo, mas sobretudo, nos reinados de José Sócrates e, pela aragem, nada vai ser agora diferente) é um paraíso. O máximo que se consegue é assessores disfarçados de jornalistas, directores fingindo ser jornalistas e, de vez em quando, jornalistas disfarçados de jornalistas.
No caso de Nepal, o uso de jornalistas como informadores é contrário ao código de conduta emitido pelo Conselho de Imprensa Nepalês.
Também em Portugal, de acordo com todas as leis, os jornalistas são algo que não se encontra na vida real. Nenhuma dessas leis diz que, para manterem o emprego, têm de ser tapetes (mesmo que de luxo) do Poder. Mas que, cada vez mais, são mesmo tapetes, isso são.
Em Portugal usam-se os jornalistas (há, obviamente, excepções) para assinarem textos paridos por assessores, para darem um ar de notícia à propaganda, para fazerem fretes aos seus donos e aos donos dos seus donos, para…
Há uns anos, o Centro Palestiniano para as Liberdades de Média e Desenvolvimento (MADA) relatou que agentes de segurança israelitas se disfarçaram de fotojornalistas para identificar e deter manifestantes, uma prática também denunciada pelos Jornalistas Canadianos pela Liberdade de Expressão (CJFE), que em 2008 documentou o caso de um polícia que se fez passar por repórter com o mesmo fito.
Pois é. São mundos e realidades diferentes. Pelo reino luso o que se encontra é bem diferente. São ministros, assessores, assessores dos assessores, chefes de gabinete, empresários, autarcas, dirigentes desportivos, todos disfarçados de jornalistas. Tão bem disfarçados que, se calhar, alguns até têm carteira profissional.
Para o MADA, esta é “uma violação das leis e cartas internacionais e coloca em risco as vidas dos jornalistas”, enquanto o CJFE afirma que “quando polícias se fazem passar por jornalistas, cria-se um ambiente em que os cidadãos não podem confiar que quem se identifica como jornalista é realmente jornalista”, o que prejudica o relacionamento com potenciais fontes de informação.
Por Portugal, os cidadãos também confiam cada vez menos nos jornalistas. Não porque temam que lhes apareça a amante do dono do jornal a dizer que é jornalista, mas porque nem mesmo os jornalistas dizem que são jornalistas.
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