Ao contrário do que aqui (onde mais poderia ser?) escrevi, o regime angolano, liderado desde 1975 pelo MPLA, está a achar grande piada ao governo português dirigido pelo “africanista de Massamá”, Passos Coelho.
José Eduardo dos Santos, um presidente que está no poder há 32 anos sem nunca ter sido eleito, perdeu um velho amigo, José Sócrates, mas encontrou na dupla Passos Coelho/Paulo Portas novos amigos que continuam a abrir as portas que existem e as que não existem à entrada triunfal do seu clã.
Ao que parece, tal como José Sócrates, também o actual governo português não está interessado em que o MPLA alguma vez deixe de ser dono de Angola. O processo de bajulação continua a bem, dizem, de uma diplomacia económica que – neste caso – se está nas tintas para os angolanos.
Embora já não tendo, como no tempo de Sócrates, tantos ditadores para idolatrar, o governo português continua a querer dar-se bem com os que existem, sobretudo com aqueles que têm dinheiro para ajudar a flutuar as ocidentais praias lusitanas.
É disso paradigma o actual líder do país (Angola) que preside à Comunidade de Países de Língua Portuguesa e que, como prova da democraticidade do seu regime, está no poder – repita-se - há 32 anos sem ter sido eleito.
Paulo Portas, que até foi excepcionalmente recebido pelo dono de Angola, acredita que o importante para Portugal são os poucos que têm milhões e não, claro, os milhões que têm pouco… ou nada. E tem razão. São esses poucos que poderão comprar o BPN e, pela via económica, dar aos portugueses o estatuto de protectorado.
Também pouco importa se, um dia destes, aparecer alguém a dizer: “peixe pode, fuba podre, 50 euros e porrada se refilares”.
E se Portas diz que as relações com Angola são excelentes, é porque são mesmo. Eu diria bem mais do que excelentes... na óptica da Oferta Pública de Aquisição lançada por Angola (que não pelos angolanos) sobre Portugal.
Tão excelentes como os 68% (68 em cada 100) de angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome.
Tão excelentes como o facto de 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Tão excelentes como Angola ser um dos países mais corruptos do mundo.
Tão excelentes como a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, ser o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.
Tão excelentes como o facto de 80% do Produto Interno Bruto ser produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada ser subtraída do erário público e estar concentrada em menos de 0,5% de uma população.
Tão excelentes como a certeza de que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, estar limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Como se já não bastasse a recente bajulação socialista de Lisboa ao regime angolano, os portugueses continuam agora a assistir a novos episódios da mesma bajulação, embora com diferentes protagonistas.
Parafraseando José Sócrates, não basta ser ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros para saber contar até doze sem ter de se descalçar... Mas, é claro, ser do governo é suficiente para, por ajuste directo, entregar ao dono de Angola tudo o que ele quiser. Espera-se, aliás, que queira tudo e mais alguma coisa.
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