Sob o título “Angolanos estão na corrida à privatização do BPN”, escreve o Público que o banco angolano BIC vai formalizar uma intenção firme de aquisição do Banco Português de Negócios (BPN), que o Estado quer privatizar.
A questão merece duas considerações. Uma sobre o próprio Mira Amaral (ministro português do Trabalho e Segurança Social do X Governo Constitucional (1985-1987) e ministro da Indústria e Energia do XI e XII Governo Constitucional (1987-1995), e outra sobre os angolanos da construção civil e os outros…
Luís Mira Amaral considerou (recordam-se?) no dia 8 de Maio de 2008 que as afirmações do músico e activista irlandês Bob Geldof sobre os governantes angolanos eram "totalmente irresponsáveis" e "profundamente desconhecedoras" da realidade angolana.
Esta análise, está bem de ver, nada teve a ver com o facto de os maiores accionistas do BIC serem, nessa altura, o empresário português Américo Amorim, com 25%, e a Sociedade de Participações Financeiras (SPF), da empresária angolana Isabel dos Santos, filha do presidente José Eduardo dos Santos, também com 25%.
"São afirmações que além de serem totalmente irresponsáveis, são profundamente desconhecedoras da realidade angolana", disse Mira Amaral, questionado sobre o assunto pelos jornalistas.
O presidente executivo do banco sublinhou ainda que as afirmações "não mostram a mínima sensibilidade para o esforço enorme que um país que viveu em guerra tantos anos está a fazer para se reconstruir". "Há dois tipos de pessoas: os gestores que sabem do que falam e os artistas de rock e pop que serão competentes na sua área, mas se calhar noutras áreas não têm competência nem o conhecimento para falar" acrescentou.
"Qualquer pessoa que seja gestor executivo sabe o que custa fazer as coisas na prática e o tempo que levam a fazer. Quem canta músicas e depois tenta falar sobre coisas sérias, se calhar esta não é sua área específica de competência", disse Mira Amaral, explicando que "são três transições que Angola está a fazer ao mesmo tempo. Portugal não as fez ao mesmo tempo e sabemos as dificuldades que tivemos e se calhar ainda temos".
Bob Geldof afirmou na altura que "Angola é gerida por criminosos" numa conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, organizada pelo Banco Espírito Santo e semanário Expresso, dedicando uma intervenção de cerca de vinte minutos ao tema "Fazer a diferença".
"As casas mais ricas do mundo do mundo estão [a ser construídas] na baía de Luanda, são mais caras do que em Chelsea e Park Lane", apontou, estabelecendo como comparação os dois bairros mais caros de Londres, capital do Reino Unido.
Passemos a outra questão.
De acordo com António Balbino Caldeira, “o povo não pode esperar da imprensa o que a imprensa já não pode dar: independência. Devido à obsolescência tecnológica e social, motivada pela tendência da desintermediação, e à asfixia financeira da gratuidade dos conteúdos e meios e da falta de adaptação estrutural, a imprensa tornou-se o tapete do poder».
Continuo, por muito que isso custe a alguns, a ficar virado do avesso quando, e em Portugal isso é mais do que comum, africano é sinónimo de negro e angolano é sinónimo de empregado da construção civil ou de mulher da limpeza.
Cada vez que falo deste assunto, explicam-me que não é uma questão de racismo mas, talvez, de ignorância. Na melhor das hipóteses admito que seja uma simbiose das duas.
De qualquer modo chateia ver (e chateia que se farta!), por exemplo, alguma Comunicação Social, supostamente nada racista e intelectualmente válida, confundir a vida nas esquinas com as esquinas da vida.
Estou farto de, entre dois eventuais autores – um negro e outro branco - de um qualquer crime, o suspeito principal ser sempre o negro. Estou farto dos discursos e das práticas racistas que, depois de tantos anos de democracia, associam a população negra a toda a criminalidade.
Para além de os dados estatísticos da população prisional portuguesa não permitirem tão leviana conclusão, os problemas devem ser analisados não em função da cor mas sobretudo da realidade social, económica, política e cultural em que se inserem.
Curiosamente, a dita Imprensa de referência em Portugal só há pouco tempo descobriu (mais vale tarde...) que, por exemplo, há angolanos que são brancos. E até que há angolanos que nem são angolanos, por exemplo.
Por alguma razão, Portugal está na cauda Europa e, com a sua manifesta mas não assumida ignorância, contribui para que Angola (por exemplo) esteja (ainda esteja) no estado em que se encontra.
Ao passar a imagem de que africanos só são negros, de que os culpados são quase sempre negros, Portugal corre o sério risco de arcar com o rótulo de – para além de último descolonizador – ser um país racista. E se não é... às vezes parece.
1 comentário:
Mas não há mais negócios (bancos, empresas, etc) à venda em outras partes do Mundo desenvolivdo? Por que carga de água Angola só compra ou investe em Portugal? Não será por isso Portugal o “lixo” de que se referiu a Moody?
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