O jornalismo, escreve o Público, é hoje feito por um maior número de profissionais com carteira (profissional... mas vazia), por mais mulheres, sobretudo nas camadas mais jovens, e por pessoas com mais qualificações académicas, indica o estudo "Ser jornalista em Portugal - perfis sociológicos" que será hoje apresentado em Lisboa.
A investigação foi realizada por uma equipa do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do Instituto Universitário de Lisboa, em parceria com nomes pesados do jornalismo português como Adelino Gomes ou Diana Andringa, entre outros, que realizaram as entrevistas entre 2006 e 2008 a 47 jornalistas portugueses, no âmbito da formação académica que realizavam no ISCTE.
José Rebelo, professor universitário que coordenou a investigação, destaca "um aumento extraordinário do número de jornalistas portadores de carteira profissional", sobretudo na década de 1980, número que, porém, está a diminuir desde 2000. E o número de mulheres, já maioritárias em algumas faixas etárias da profissão. Preocupante, diz, é o facto de cada vez mais estagiários estarem a ser utilizados como jornalistas profissionais.
De facto, e sou eu que o digo, é cada vez mais corrente a ideia de que os jornalistas portugueses têm, ou querem ter, o poder absoluto de informar.
Nada mais falso. Para começar, só têm o poder que o poder económico, empresarial e político lhes aceita dar. Depois, se informar é uma das prioridades dos jornalistas, não o é para os que na maioria dos casos fazem jornais, rádio ou televisão.
Hoje (salvo muito poucas excepções) não se fazem jornais, fazem-se linhas de enchimento de conteúdos de linha branca em forma de papel, rádio, televisão ou Internet. E fazem-se à medida e por medida do cliente. E o cliente não é o público. É quem paga, é quem manda.
A coisa está brava? Não, não está. Estaria se falássemos de Jornalismo. Resta, contudo, a certeza de que é mais a parra do que a uva. Desde logo porque, ao contrário do que seria de esperar, os «macacos» não estão nos galhos certos. E quando assim acontece (e acontece muitas vezes), os produtores de conteúdos procuram apenas sobrevalorizar as ideias de poder em detrimento do poder das ideias.
A convivência entre os diferentes poderes não tem sido fácil. O suposto Estado de Direito democrático em Portugal ainda é – na melhor das hipóteses - uma criança e, como tal, há muitos vícios, deformações e preconceitos herdados ou estimulados que a muitos dá jeito conservar e sobre os quais espero que, um dia qualquer, o CIES faça também um estudo.
É claro que o «quero, posso e mando» que hoje está instituído por essas Redacções fora, apenas serve quem entende que jornalismo é uma mera forma de propaganda. Propaganda sobretudo político-económica.
Mas esta discussão, que alimento como forma de salubridade mental, é uma maneira de tapar o sol com uma peneira. Tenho a exacta noção de que os Jornalistas são comidos à grande e à francesa com a conivência activa de muitos que tendo a Carteira Profissional de Jornalista, que trabalhando nas Redacções, não passam de néscios a quem foi dado o poder de um capataz.
O problema principal reside no facto de que (basta ver as Redacções), médicos, advogados, arquitectos, engenheiros, treinadores de futebol, amigos, filhos e amantes serem “jornalistas”.
O jornalismo que vamos tendo, qual reles bordel, aceita tudo e todos. É um pouco semelhante à política
E, de facto, aos jornalistas falta-lhe cada vez mais autoridade moral para contestar o que quer que seja. Se todos podem ser jornalistas, porque carga de água não podem os jornalistas ser deputados, assessores de políticos, publicitários etc.?
Podem. Tal como podem, depois regressar às Redacções para serem fiéis acéfalos dos amos a quem antes serviram.
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