domingo, julho 17, 2011

Ocidente canta e ri de barriga cheia e desde que sejam, como é óbvio, negros a morrer...

A Unicef alertou hoje para o "risco iminente de morte" de meio milhão de crianças no Corno de África, devido à forte seca que afecta mais de dois milhões de crianças.

 Ou é a seca ou são as guerras. Mas, é claro, os donos do mundo, que discutem estes problemas durante os almoços nos areópagos da política internacional, continuam de barriga cheia.

"Meio milhão de crianças sofre de malnutrição severa e está em risco iminente de morte. Precisam de ajuda imediata", alertou o director executivo da agência das Nações Unidas para a infância, Anthony Lake, numa conferência de imprensa na capital do Quénia.

Lake juntou-se ao ministro britânico para o Desenvolvimento Internacional, Andrew Mitchell, que anunciou no sábado o envio de 60 milhões de euros de ajuda urgente para a Somália, Quénia e Etiópia.

Na Somália, o país mais afectado, um terço da população precisa de ajuda alimentar de emergência, segundo a União Africana.

Milhares de famílias somalis passam fome no campo de refugiados em Dabaad, no leste do Quénia, preparado para 90 mil pessoas mas habitado por 300 mil.

"Aquilo a que assistimos é como uma 'tempestade perfeita': o conflito armado na Somália, os preços crescentes dos combustíveis e dos alimentos, a seca e a falta de chuva. A próxima colheita só se fará daqui a quatro ou cinco meses. Temos uma tarefa enorme pela frente", frisou o director executivo da Unicef.

De há muito que se sabe (sabem os que não olham apenas para o seu umbigo) que na lista dos 10 países mais susceptíveis de se tornarem estados falhados, sete africanos, nomeadamente Somália, Sudão, Zimbabué, Chade, República Democrática do Congo, Costa do Marfim e República Centro Africana (os outros são asiáticos: Iraque, Afeganistão e Paquistão).

Mas a tal democracia que agora querem exportar para a Líbia tem destas coisas. Como bons mentores da verdade divina, EUA e Europa disseram – e é apenas um exemplo - que era preciso haver eleições e a Costa do Marfim realizou-as.

No entanto, como é habitual, não explicaram que quem perde tem de sair. É que, se tivessem explicado, não haveria eleições.

Em Angola verifica-se, por exemplo, que ao Ocidente basta uma UNITA com 10% dos votos para dar um ar democrático à ditadura do MPLA. Aliás, por alguma razão o Ocidente não reagiu às vigarices, às fraudes protagonizadas pelo MPLA. E não reagiu porque não lhe interessa que a democracia funcione, neste caso em Angola. É sempre mais fácil negociar com as ditaduras.

"Algumas pessoas já entenderam a essência da democracia, mas outras nem por isso, e os que nos querem hoje ensinar o que é a democracia são aqueles que atrasaram o país durante 500 anos e que são, ainda, as antenas e os acólitos do neocolonialismo na Guiné-Bissau", afirmou em tempos o ex-presidente guineense, Kumba Ialá.

Para o Ocidente, o importante é que se façam eleições “rapidamente e em força”, como disse – embora a outro propósito – António de Oliveira Salazar, seja onde for, mesmo sabendo que os povos vão votar com a barriga (vazia).

Mesmo sabendo que votar nestas condições nunca será sinónimo de democracia. Mesmo sabendo que, desta forma, não tardará que estejamos todos a lamentar mais umas mortes violentas.

Mas, do ponto de vista do Ocidente, vale a pena ter esses lamentos. E vale porque os africanos vão morrendo mas as riquezas, essas continuam lá à espera do... Ocidente.

Ao que parece, a comunidade internacional nada mais pode fazer. Até porque existe uma grande diferença entre a qualidade dos que morrem, por exemplo, na Somália e a dos que morrem na Líbia.

Como se constata, o que Muammar Kadhafi está a fazer ao seu povo é um verdadeiro genocídio. Como certamente diria João Gomes Cravinho, o líder líbio – que até há pouco tempo era considerado por José Sócrates como um “líder carismático” - não passa agora de um Hitler.

Genocídio é com certeza o que se vai passando na Líbia e não, é claro, qualquer outra coisa que se passa na África mais profunda, mais a Sul. Para se falar de genocídio é preciso ver quem são as vítimas e quem são os autores.

Na verdade, o que são os milhões de pessoas que em toda a África morrem de fome, de doença ou pelos efeitos da guerra, comparados com a situação na Líbia, ou até mesmo com a fabricada crise na Europa?

É claro que o importante é mostrar ao mundo que a aviação líbia tornou em escombros grande quantidade de prédios. Reconheço que tal não acontece em África.

Não acontece mesmo. Em zonas onde há milhões de pessoas que vivem (quando vivem) em cubatas é difícil, calculo eu, ter imagens de prédios destruídos.

Além disso, o que interessa não são os africanos mas, antes, o petróleo e outros produtos vitais para o Ocidente. E se até Sarah Palin não tinha a noção do que era essa coisa chamada África, é bem natural que as ruas das principais cidades mundiais se encham de cidadãos de primeira preocupados com outros cidadãos de primeira, e não com essa espécie menor a que chamam pretos.

1 comentário:

ELCAlmeida disse...

Meu caro, não é porque são pretos e os outros, eventualmente, estúpidos ou pallinizados.
O que acontece é que quem deveria ser - ou ter - voz importante na vida social como os actore George Cloney ou Angolina Jolie, só se lembram dos desgraçados onde existe petróleo (recordo Darfur e Sul do Sudão).
Por outro lado não te esqueças que os norte-americanos ainda não digeriram a derrota na missão "Resturar a Esperança" quando foram, claramente, expulsos da Somália apesar de toda a panafernália de media televisivos e escritas, ou talvez perante toda ela, os eternos "ajudantes" se calam!
Kandandu
Eugénio Almeida