domingo, julho 10, 2011

Excelência ou mediocridade? A segunda
como profissão, a primeira como utopia

Como sempre, mesmo no desemprego, estou com os Jornalistas que consideram que dizer o que pensam ser a verdade é a melhor qualidade das pessoas de bem. Estão (quase) todos no desemprego…

Em entrevista à agência Lusa, o professor universitário José Rebelo, que coordenou a equipa do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) responsável pelo estudo “Ser jornalista em Portugal – perfis sociológicos”, realça que “o número de estagiários no jornalismo tem vindo a aumentar significativamente”.

Ou seja, os jornalistas  estão no desemprego e os estagiários estão nos seus lugares. Tudo normal nas ocidentais praias lusitanas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos.

No exercício de funções “próprias de um jornalista profissional”, o estagiário “exerce-as, por um lado, ganhando menos ou não ganhando, e por outro lado, sem qualquer, ou com uma reduzidíssima, capacidade reivindicativa”, sublinha o docente e também ex-jornalista.

Mão de obra barata, mesmo quando o produto é de menor qualidade, é algo que continua a interessar fortemente aos donos dos jornalistas e, é claro, aos donos dos donos dor jornalistas. A bem da nação, como é óbvio.

Os estagiários “receiam, estão numa situação precária e procuram sobretudo criar um posto de trabalho que não têm”, destaca José Rebelo, considerando que as entidades patronais “beneficiam desta passividade, destes baixos custos, para fazer sobreviver as redacções, sem contestação e a preços inferiores”.

Aqui José Rebelo confunde, o que é coisa rara nele, a beira da estrada com a estrada da Beira. Os baixos custos não visam ajudar as redacções a sobreviver. Ajudam, isso sim, os empresários a ganhar mais, muito mais.

Por outro lado, a diminuição do número de jornalistas profissionais justifica-se com “a crise” – que levou ao encerramento e fusão de órgãos de comunicação –, mas também com o “desenvolvimento dos grupos multimédia”. Estes contribuem “para reduzir os postos de trabalho, na medida em que o mesmo jornalista escreve um artigo para o jornal, um texto para a televisão e é capaz mesmo de escrever uma peça para a rádio”, assinala.

Aqui na casa tem-se dito vezes sem conta que os donos dos órgãos de comunicação social os transformaram em meras linhas de enchimento de textos de linha branca. José Rebelo diz a mesma coisa, embora usando uma linguagem mais rebuscada.

Todas estas alterações resultaram em “relações de tensão” nas redacções, que hoje dispõem de gente “mais qualificada, sem dúvida”, mas sujeita também a “um aumento claro dos níveis de precariedade”. Essa “tensão” também existe entre as gerações de jornalistas, porque “os mais velhos” vêem no jornalismo “uma missão”, enquanto “os mais novos” o encaram como “uma profissão”.

Nem mais. Por alguma razão, citando os usos e costumes cá da casa, se diz que não se é jornalista 7 ou 8 horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 14 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Acreditando que "hoje haja auto-censura, relativamente ao poder político, ao poder económico”, José Rebelo conta que os jornalistas reconhecem sempre “pressões” sobre os outros, mas nunca sobre si mesmos: “Quando se pergunta a um jornalista ou um estagiário ‘acha que há pressões que se exercem junto dos jornalistas’, respondem todos que sim; quando se pergunta ‘e sobre si foram exercidas pressões’, respondem que não”.

Se José Rebelo lê-se o que aqui (mas não só) se diz sobre esta matéria, veria que nem todos são como os que foram ouvidos. Se falasse com os jornalistas que estão no desemprego por dizerem o que pensam, por se recusarem a pensar com a barriga, teria com certeza respostas diferentes.

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