A vida de 1 milhão de crianças famintas está em risco devido à seca que afecta a Somália, a Etiópia, a Eritreia, o Quénia, o Uganda, o Djibuti e o Sudão.
Perante este cenário, pergunto ao vento que (não) passa como vão as crianças do meu país. E ele responde que não vão… morrem.
De facto, o Presidente da República de Angola, não eleito e há 32 anos no poder, José Eduardo dos Santos, continua a gozar com a chipala, e com a dor, dos meninos de todos os huambos, a ponto de ter tido a lata de endereçar uma mensagem de felicitações por ocasião do 1 de Junho, Dia Internacional da Criança.
“Hoje, Dia Internacional da Criança, queremos saudar as crianças do nosso país e do mundo, fazendo votos para que lhes seja prestada uma atenção cada vez mais activa e empenhada na resolução dos seus múltiplos problemas”, lê-se na mensagem do dono de Angola.
Eduardo dos Santos, tal como faz com os adultos que o não idolatram, enxovalha desde logo 45% das crianças angolanas que sofrem de má nutrição crónica, gozando com o corpo faminto de 25% delas (uma em cada quatro) que morrem antes de atingir os cinco anos de idade, bem como com as que são geradas com fome, nascem com fome e morrem pouco depois... com fome.
Na mensagem, o dono do reino diz que “cabe nesta hora reiterar os compromissos em relação à criança já assumidos pelo nosso Governo, em colaboração com o Sistema das Nações Unidas e com outros parceiros sociais, no sentido de lhe garantir uma maior esperança de vida ao nascer”.
Como se não bastasse às crianças (às que não são da casta de Eduardo dos Santos) passarem pelo que passam, ainda têm de suportar um presidente que finge estar preocupado mas que, de facto, nada faz para resolver as suas carências.
Eduardo dos Santos tem, aliás, a lata de dizer que essa garantia, para além do registo de nascimento e da educação na primeira infância, envolve também a segurança alimentar nutricional, os cuidados médicos primários, a prevenção e o combate contra a violência, a criação de espaços lúdicos, a protecção social, o respeito pelos seus direitos e o reforço das competências familiares.
“Julgamos que deste modo estaremos a criar as condições para que as nossas crianças cresçam saudáveis e tenham desde muito cedo à sua disposição tudo o que merecem, pois são elas que constituem o futuro e que vão prosseguir os nossos actuais esforços para transformar Angola num país próspero, moderno e democrático, onde o bem-estar de cada um se reflicta no bem-estar geral”, realçou o dono do reino.
Na verdade, quem melhor reflecte a situação angolana é Kundi Paihama, quando diz: “durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”.
Esta é, aliás, a filosofia basilar do MPLA. O que sobra não vai para os pobres, vai para os coitados dos cães.
E por que não vai para os pobres?, perguntam vocês, eu também, tal como os milhões que todos os dias passam fome. Não vai porque não há pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães…
Kundi Paihama explica: “Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”.
Quanto aos angolanos, aos outros angolanos, citando de novo Kundi Paihama, que comam farelo porque “os porcos também comem e não morrem”.
Embora seja um exercício suicida, importa aos vivos não se calarem, continuando a denunciar as injustiças, para que Angola possa um dia ser diferente, ser de todos os angolanos.
“O Povo sofre e passa fome. Os países valem pelas pessoas e não pelos diamantes, petróleo e outras riquezas”, disse Frei João Domingos, numa pregação certamente só ouvida pelos peixes ou pelas welwitschia mirabilis.
Mas, como diria o camarada Eduardo dos Santos, a luta continua. Tem de continuar.
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