Os organizadores do prémio Quadriga, na Alemanha, anunciaram hoje que desistiram de entregar o prémio da edição deste ano ao primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, depois de uma onda de protestos contra a distinção. Que injustiça…
Segundo a organização, esta decisão foi motivada pelas críticas massivas nos meios de comunicação e no mundo político desde que anunciou que o governante russo era o distinguido em 2011.
Afinal a organização não constatou que Putin não merecia o prémio. Fê-lo apenas para acalmar a contestação, desde logo porque o prémio Quadriga é subsidiado com fundos estatais e privados, e visa – note-se – distinguir personalidades que se salientam pela defesa da liberdade, da democracia e dos direitos humanos.
Um prémio que se era merecido por Putin, também o poderia ter sido por Pol Pot, ou vir a sê-lo por José Eduardo dos Santos, Robert Mugabe, Muamar Kadhafi ou Ratko Mladic.
Convenhamos que não seriam, creio eu, uma boa companhia para os já laureados, entre os quais estão o ex-chanceler alemão Helmut Kohl, o ex-presidente checo Vaclav Havel, o ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchev, o presidente israelita Shimon Peres e o músico britânico Peter Gabriel. Mas nunca se sabe.
A verdade é que Putin e companhia não estão com meias medidas. Quando, por exemplo, ouvem falar de Jornalistas pegam logo na pistola. Pegam e utilizam. Foi isso que fizeram com Anna Politkovskaia, a Jornalista russa que ficou conhecida nos países ocidentais pela cobertura crítica que fez da guerra na Tchetchénia.
Valha-nos, ao menos, que em Portugal há forma mas sofisticadas de “matar” os jornalistas. Se, por um lado, eles são cada vez menos (no seu lugar estão os produtores de conteúdos), por outro uma passagem pelo desemprego é (quase) sempre remédio santo.
Anna Politkovskaia fez carreira como jornalista de investigação e tornou-se conhecida fora da Rússia pelas reportagens críticas que fez na república separatista da Tchetchénia, onde escreveu sobre os assassínios, torturas e espancamentos de civis pelas forças russas.
Por essas reportagens, Politkovskaia recebeu vários prémios de jornalismo, entre os quais a Caneta de Ouro (da União de Jornalistas da Rússia), em 2001 , o do Pen Club International, em 2003, e o Prémio Jornalismo e Democracia da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
De nada lhe valeram. A verdade é incómoda, seja na Rússia, em Angola ou em Portugal. O que varia são os métodos para calar o mensageiro. No caso russo, segundo a Comissão para a Protecção dos Jornalistas, morreram 23 entre 1996 e 2005.
Apesar desta dura realidade, todos aqueles que estão de pistola em punho saíram à rua para condenar o que se passou e dizer que a liberdade de Imprensa é um valor sagrado.
Sagrado sim, desde que não toque nos interesses instalados, desde que só diga a verdade oficial.
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