O Povo angolano, uma espécie de escravos – segundo o entendimento do regime de Eduardo dos Santos, luta pelo seu país na esperança, até agora vã, de que ele seja um Estado de Direito.
O regime, como é habitual e com a cobertura da comunidade internacional, responde com a sua principal arma: a razão da força, onde não faltam as milícias populares.
A polícia contou ontem, mais uma vez, com o seu poder popular (civis) para meter na ordem todos aqueles que teimam em pensar diferente do regime que, recorde-se, governa Angola desde 1975 e que tem um presidente, não eleito, há 32 anos no poder.
Também como é habitual, todos os que se manifestam são culpados até prova em contrário. Assim sendo, enquanto a CPLP (presidida por Angola) e a restante comunidade internacional olha para o lado, alguns dos manifestante ficam com os ossos partidos.
Não adianta, pelo menos por enquanto, dizer que a polícia (armada até aos dentes) e os seus capangas à civil, desrespeitam o direito à manifestação e os direitos humanos. E não adianta porque Angola não é um Estado de Direito mas, antes, um reino em que o soba tem plenos poderes, inclusive para mandar matar quem pense de maneira diferente.
Os manifestantes que continuam a semear a Primavera, embora até agora vivam no mais duro Inverno, bem gritaram que "a polícia é do povo, não é do MPLA". Esqueceram-se, contudo, que num regime totalitário como é o angolano, o MPLA é Angola e Angola é o MPLA.
Em Angola "vive-se uma democracia com medo", disse uma vez o "rapper" angolano Mona Dya Kidi. Mentira. No reino de Eduardo dos Santos existe a mais avançada democracia de que há conhecimento… Duvidam? É só perguntarem, entre outros, a Cavaco Silva, Passos Coelho ou Armando Guebuza.
Falar, no caso de Angola, de democracia com medo é uma forma de branquear a situação, compreensível no contexto de que os angolanos sabem que o regime mata primeiro e pergunta depois. Aliás, se existe medo é porque não existe democracia.
O regime de Eduardo dos Santos sabe bem que a melhor forma de exercer a sua “democracia” é mesmo ter 70% da população na miséria, é ter tirado a coluna vertebral à esmagadora maioria dos seus opositores políticos, a começar pela UNITA, é dizer ao povo que tem de escolher entre a liberdade e um saco de fuba.
José Eduardo dos Santos que tem, que ainda tem, a cobertura internacional (comprada, mas tem), sabe que pôr o povo a pensar com a barriga é a melhor forma de o manter calado e quieto.
De facto, defender a liberdade de expressão não é nada do outro mundo, mas é algo que o regime não quer. Tudo quanto envolva a liberdade (com excepção da liberdade para estar de acordo com o regime) é algo que causa alergias graves a Eduardo dos Santos.
Abel Chivukuvuku (na foto com Filomeno Vieira Lopes, secretário-geral do Bloco Democrático ontem agredido pelos esbirros do regime) qualificou o que ontem aconteceu em Luanda, capital do reino de José Eduardo dos Santos, como uma, mais uma, “barbárie".
"Barbárie. O que aconteceu foi uma barbárie. Há um único responsável, que é o Presidente José Eduardo dos Santos", frisou Abel Chivukuvuku em declarações à Lusa.
Chocado com o sucedido, Abel Chivukuvuku salientou que se for preciso juntar manifestações de rua à acção política que se propõe encabeçar, o irá fazer.
"Vim aqui prestar a minha solidariedade a Filomeno Vieira Lopes. Se for preciso ir para a rua vamos fazê-lo, mas de forma organizada", acentuou o antigo líder parlamentar da UNITA e agora líder de um novo projecto partidário que será apresentado, quarta-feira, em Luanda.
Por tudo o que se tem passado em Angola estou, sinceramente, de acordo com as teses do antigo ministro da Defesa, figura de destaque do MPLA, e um empresário de sucesso em áreas que vão da banca ao imobiliário, hotelaria, jogos, diamantes etc., de seu nome Kundy Paihama.
Se todos os angolanos que não são do MPLA levassem em conta as suas palavras, certamente que evitavam ter de comer peixe podre, fuba podre, e ter direito a 50 angolares e a porrada se refilarem.
Num dos seus (foram tantos) célebres e antológicos discursos, Kundy Paihama disse: “Não percam tempo a escutar as mensagens de promessas de certos Políticos”, acrescentando: “Trabalhem para serem ricos”.
Tal como a maioria do povo angolano, 68%, que vive abaixo da linha de pobreza, também eu passei a venerar Kundy Paihama.
A tal ponto vai a minha veneração que até advogo a tese de que as verdades de Kundy Paihama deveriam, no mínimo, fazer parte das enciclopédias políticas das universidades angolanas e, porque não?, de todo o mundo civilizado.
“Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”, afirmou há uns tempos o então ministro da Defesa do MPLA. Não, não há engano. Reflectindo a filosofia basilar do MPLA, Kundy Paihama disse exactamente isso: o que sobra não vai para os pobres, vai para os coitados dos cães.
E por que não vai para os pobres?, perguntam os milhões, os tais 68%, que todos os dias passam fome. Não vai porque não há pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães…
“Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”, explicou Kundy Paihama.
É claro que, embora reconhecendo a legitimidade que os cães de Kundy Paihama (bem como de todos os outros donos do país) têm para reivindicar uma boa alimentação, penso que os angolanos, os tais 68% que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome, não devem transformar-se em cães só para ter um prato de comida.
Embora tenham regressado pela mão do MPLA ao tempo do peixe podre, fuba podre, 50 angolares e porrada se refilares, devem continuar a lutar para ter direito a, pelo menos, comer como os cães de Kundy Paihama.
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