Se os portugueses não morrem em maior quantidade, a culpa não será com certeza de um Governo que está a fornecer-lhes todos os instrumentos para terem sucesso…
Segundo o jornal i, Álvaro Santos Pereira ameaçou demitir-se no Conselho de Ministros da última quinta-feira, onde esteve a ser discutido o esvaziamento dos seus poderes na gestão do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).
Cá para mim é apenas treta. Isto porque só pede ou ameaça sair que, afinal, quer ficar. Quem quer de facto sair… sai.
Essa minha convicção e modo de vida (que, reconheço, poucos resultados positivos me deram), reforça a ideia de que na primeira fila do teatro da vida portuguesa, mas não só, está a subserviência, colectiva ou individual.
E está na primeira fila, na ribalta, porque quer ser vista. A competência, essa está lá atrás porque – modesta como sempre – apenas quer ver.
Um amigo, dos que está cá atrás, diz-me que um dos que está lá na primeira fila pediu para sair, ameaçou demitir-se. Dito de outra forma, pôs o lugar à disposição. Ao justificar que essa atitude é bem nobre, o meu amigo teve de mudar de lugar e ir bem mais lá para a frente.
No entanto, ao questionar a alusão à mudança de lugar, o meu amigo mostrou que é dos que pode e deve ficar cá atrás. Se entre a ignorância e a sabedoria só vai o tempo de chegar a resposta, só alguém inteligente é capaz de esperar pela chegada da resposta.
Os que sabem tudo, esses estão na primeira fila…
Cá atrás estão igualmente os que entendem que se um jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos problemas é, com certeza, um imbecil. Ainda mais atrás estão os que consideram que se o jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso.
É por isto que os membros do Governo português estão sempre na primeira fila. Se, como diz Passos Coelho, "uma nação com amor próprio não anda de mão estendida", creio que qualquer português com amor próprio também não.
E para que um cidadão não ande, apesar da barriga cada vez mais vazia, de mão estendida, o melhor que tem a fazer é – segundo as teses oficiais - aprender a viver em silêncio sem comer ou, em alternativa, estender a mão mas tendo entre os dedos uma pistola.
O primeiro-ministro, na versão Pedro Miguel Passos Relvas Coelho, defende que ao executar o programa de assistência está a fazer o que se pede ao governo "de um país honrado" e que se os compromissos forem cumpridos, Portugal "volta-se a erguer".
Se os portugueses cumprirem o que quer o governo não voltarão a erguer-se, mas permitirão que os donos do país continuem bem direitos e a viver à grande, seja nas ocidentais praias lusitanas ou em qualquer outro paraíso, fiscal ou não.
Passos Coelho diz que à oposição “começa a faltar imaginação para pôr questões e mostrar pontos de vista". Disse-o depois de ter sido confrontado num debate quinzenal no Parlamento pelo líder do PCP, Jerónimo de Sousa, com o "calvário para as populações" que representam as medidas de austeridade.
Qual calvário, qual austeridade. Alguém acredita que a vida dos desempregados, dos 20 por cento de pobres e dos outros 20 por cento cuja grande ambição é terem comida no prato, é um calvário?
Só o ano passado foram encontrados mortos em casa 2.872 cidadãos. Alguém acredita que foi por causa da austeridade?
Pedro Miguel Passos Relvas Coelho acusa os comunistas de aproveitarem "casos que são dolorosos e o custo que tem para os portugueses a situação em que o país mergulhou" e defendeu que "a verdade" é que o Governo está "a apresentar resultados e a defender os portugueses da crise que se está a abater".
É assim mesmo. Um “querido líder” é isso aí. Retira os amigalhaços da confusão, trata a plebe como ela deve ser tratada e assim garante a apresentação de resultados.
O primeiro-ministro pediu ainda "honestidade" ao secretário-geral comunista: "A situação a que o país chegou não se deve, com certeza, a vários anos da minha governação". É claro que não. Aliás, o PSD só ontem (ou terá sido só hoje?) é que chegou ao governo de Portugal.
Por alguma razão Cavaco Silva (julgo que pertence ao PSD) só foi primeiro-ministro de 6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995.
Na verdade os portugueses estão com Passos Coelho. E, para isso não vão andar de mão estendida (têm orgulho próprio) e vão conseguir atingir o desiderato requerido pelo Governo, correndo todos a apoiar os que estão na primeira fila.
Como? Morrendo, por exemplo. Se o não fizerem, a culpa não será com certeza do Governo porque este está a fornecer-lhes todos os instrumentos para terem sucesso…
2 comentários:
O Ceaucescu nos últimos anos do Reinado do terror tinha exactamente a mesma psicose em relação ao pagamento da dívida externa da então República Comunista da Roménia, com os resultados que se viu...
O ceauscescu teve o mesmo tipo de psicose no Reino comunista de Bucareste e deram os resultados que se conhece...
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