quarta-feira, março 25, 2009

FMI promete ajuda em troca do impossível

Ao anunciar hoje que a ajuda técnica e financeira ao governo de união do Zimbabué depende da adopção de boas políticas económicas e do saldo da dívida externa, o Fundo Monetário Internacional veio apenas dizer que o povo vai continuar a morrer à fome.

“A ajuda técnica e financeira do FMI depende da adopção de um mecanismo de acompanhamento das políticas económicas, do apoio dos doadores e do saldo das dívidas aos credores oficiais, dos quais faz parte o FMI”, indicou a instituição internacional num comunicado depois de ter enviado uma missão àquele país africano.

O que o FMI pretende é algo que sabe ser inexequível enquanto a máquina fratricida de Robert Mugabe existir. Está, portanto e uma vez mais, a tapar o sol com uma peneira.

No início desta missão de duas semanas, o ministro da Economia zimbabueano, Elton Mangona, tinha anunciado que o FMI se tinha prontificado a ajudar “imediatamente” o novo governo de união.

Os países vizinhos do Zimbabué apelaram também ao FMI para apoiar Harare, antes da cimeira da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), que se deve reunir a 30 de Março para examinar os meios para ajudar financeiramente este país membro.

No comunicado, o FMI saudou as primeiras medidas tomadas pelo novo governo. A decisão de autorizar as transacções comerciais em divisas estrangeiras permitiu, segundo o FMI, travar a inflação e reforçar o plano de relançamento apresentado pelo governo de união na semana passada.

No entanto, o FMI sublinhou que “um forte declínio das actividades económicas e dos serviços públicos contribuiu fortemente para a deterioração da situação humanitária em 2008”.

O novo governo de união, formado a 13 de Fevereiro, tenta encontrar ajuda financeira de urgência para reconstruir a economia deste país em ruínas, que regista uma epidemia de cólera, da qual já resultaram 4.000 mortos desde Agosto, e onde mais de metade da população depende de ajuda alimentar para sobreviver.

A grande maioria do povo zimbabueano luta por sobreviver num país com a economia em ruínas, confrontado com a escassez de alimentos e uma taxa de inflação de 231 milhões por cento. Mais de 80 por cento da sua população está desempregada.

Recorde-se que, como medida macroeconómica de vastíssimo alcance e que deveria constituir um exemplo para o Mundo que se diz estar a atravessar uma grave crise financeira, o governo de Robert Mugabe lançou em Outubro do ano passado a nota de 100 mil milhões de dólares… zimbabuenos.

Assim, mesmo que tivesse uma das novas notas no bolso, qualquer cidadão do povo (sim do povo, que os da gamela usam, apesar da crise mundial, dólares norte-americanos) não conseguiria comprar três ovos. É que cada ovo custava, 35 mil milhões.

O Zimbabué continua, entretanto, a liderar o ranking dos países exportadores de... refugiados.

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