Imbecis por natureza,criminosos por cobardia

Não é difícil, além de ser barato e dar milhões, passar os melhores de bestiais a bestas. Pelo menos 181 jornalistas das redacções do Porto de vários órgãos de comunicação social perderam o emprego nos últimos cinco anos, 54 dos quais no despedimento colectivo anunciado em Janeiro pelo grupo Controlinveste (JN, DN, 24 Horas e “O Jogo).

Eu que, comparado com os mercenários que ostentam Carteira Prossisional de Jornalistas (sabe-se lá como) e que comandam o comércio jornalístico em Portugal, nada sei da matéria – mesmo considerando que ando nisto há trinta e muitos anos e que fiz parte, com honra e orgulho, da equipa que ajudou a tornar o Jornal de Notícias no maior dos maiores, continuo a não vender a minha assinatura e recuso-me a fazer qualquer cirurgia para tornar a minha coluna vertebral amovível.

Eis porque, dizem-me alguns (certamente com razão), sou uma besta. Com coluna, mas besta. Passaria a bestial se a coluna fosse amovível. Que chatice! Não é.

Como esperado, para além de passar ao anonimato junto de muitos dos que durante anos comigo trabalharam, continuo a receber algumas mensagem em que é visível, bem visível, que o sipaio se limita apenas a assinar um texto parido pelo chefe do posto ou pelo capataz.

Na verdade, digo eu, quando falta honorabilidade já não no Jornalismo mas até mesmo no comércio jornalístico, o que resta? Resta apenas a sociedade de aparências, de favores, de corrupção, de compadrios, de manipulações e outras habilidades típicas do um país que nunca mais chega a ser um Estado de Direito.

E é por tudo isto que são cada vez mais os portugueses que não conseguem, ou não querem, comer gato por lebre e dizem que no jornalismo (popularmente ainda se confunde jornalismo com comércio jornalístico) há cada vez mais imbecis e criminosos.

Mas os portugueses têm razão. Imbecis e criminosos multiplicam-se assustadoramente nesta actividade comercial de produção de textos de linha branca, feitos por encomenda e à medida do cliente. Imbecis por natureza, criminosos por cobardia.

É claro que os chefes de posto, capatazes e mercenários (são tudo sinónimos) têm poder para impor a sua ditadura. Não admira, por isso, que dada a precariedade profissional, os sipaios façam tudo o que o chefe manda.

Não deixa, contudo, de ser curioso que – nesta matéria e neste contexto – quanto mais imbecis e criminosos forem os operários do comércio jornalístico mais hipóteses têm de subir na carreira, seja esta nos media propriamente ditos, nas assessorias políticas, nas administrações de empresas em que o Governo tenha poder de decisão ou influência.

E, no caso das ocidentais praias lusitanas a norte – embora cada vez mais a sul – de Marrocos, todos sabemos que o Governo socialista quer, pode e manda em muitas empresas supostamente privadas.