Sob forte pressão internacional e depois de perto de mil mortos e 260 mil desalojados, o Quénia procura uma saída pacífica para a crise política resultante das eleições de Dezembro em que, num acto considerado fraudulento pelos observadores estrangeiros, a vitória foi atribuída ao actual presidente, Mwai Kibaki. O líder da Oposição e candidato derrotado, Raila Odinga, suspendeu a manifestação prevista para hoje, alegando ser preciso dar uma oportunidade à mediação dos países amigos.
Para a alteração do discurso de Odinga contribuiu, como o próprio reconhece, a reunião mantida com a enviada norte-americana, Jendayi Frazer, que garantiu ao líder da Oposição uma mediação que levará em conta as críticas feitas à falta da transparência e democraticidade das eleições, embora tenha acrescentado que "nesta fase o importante é acabar com a violência".
Segundo a secretária de Estado adjunta dos EUA para os Assuntos Africanos, "são graves as divisões entre Mwai Kibaki e Raila Odinga, mas ambos têm noção de que a solução da crise não passa pela violência mas antes pelo diálogo e pela procura de soluções pacíficas".
"Para nós a violência já ultrapassou todos os limites e por isso não queremos derramar mais sangue", afirmou Odinga, acrescentando, contudo, "que em muitos casos é preciso lutar e morrer pela democracia".
Apesar de acusar Odinga de querer perpetuar a violência, Kibaki propôs ao seu adversário que, "independentemente dos resultados da mediação da União Africana (UA)", se encontrem sexta-feira para, "frente a frente", resolverem a crise.
A pressão internacional tem igualmente um importante contributo africano. O presidente da UA, John Kufuor, que também é presidente do Gana, deve chegar hoje à noite a Nairobi para mediar o diálogo entre o Governo e a Oposição.
A UA, concertada com os EUA e a União Europeia, força um entendimento que contente as duas partes, tendo já obtido a concordância de Kibaki para formar um governo de unidade nacional.
John Kufuor poderá, segundo os analistas, conseguir um acordo válido e duradouro, sobretudo porque o seu prestígio como estadista é reconhecido pelos dois adversários, tendo ambos concordado que a mediação fosse feita pelo presidente da União Africana.
Tentando forçar a agenda da mediação de John Kufuor, Odinga afirmou que um tal governo não é suficiente e exige que Kibaki renuncie à Presidência, admitindo apenas um "acordo de transição" antes de uma nova votação.
Fonte: Orlando Castro/Jornal de Notícias (Portugal)
1 comentário:
Desde quando uma tribo é um partido político? como há cinismo no mundo!
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