Se não for possível deixar às gerações vindouras de Angola, nomeadamente às que têm no corpo e na alma a utopia eterna de que quem não vive para servir não serve para viver, algum património, ao menos lutemos para lhes deixar algo mais do que a expressão exacta da nossa cobardia. Dia 5 de Setembro é isso que está nas nossas mãos.
Porque não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, permito-me a ousadia (que espero compartilhada por todos os que responderam a esta chamada) de tentar o impossível já que - reconheçamos - o possível fazemos nós todos os dias.
Como jornalista, como angolano, como ser humano, entendo que a situação social angolana, ao contrário da económica, ultrapassa todos os limites, mau grado a indiferença criminosa de quem, em Angola ou no Mundo, nada faz para acabar com a morte viva que continua a caracterizar um povo que morre mesmo antes de nascer.
E morre todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos. E morre enquanto Portugal, por exemplo, canta e ri e elogia os responsáveis pela catástrofe humanitária que coloca Angola ao nível da Eritreia ou do Ruanda. E morre enquanto outros, em Luanda, comem lagosta.
Tirando os poucos que têm milhões, ou Angola muda ou, como na guerra, ninguém sairá vencedor. Todos perdem. Todos perdemos.
Assim sendo, é pequeno o passo que é preciso dar dia 5 de Setembro para que os angolanos, irmãos de sangue, deixem de vasculhar os caixotes do lixo para sobreviver.
Até agora, Eduardo dos Santos, o MPLA e toda máquina do poder teimaram em esquecer que, afinal, num país onde não há pão... todos matam e todos morrem sem razão. É altura de mudar.
Mais do que julgar e incriminar importa, nesta altura, mudar. Mudar definitivamente. Não se trata de fazer um intervalo para, no meio de palavras simpáticas e conciliadoras, ganhar tempo para somar mais uns milhões na conta dos poucos que já têm milhões. Trata-se de dignificar os angolanos, coisa que desde 1975 o MPLA não soube, ou não quis, fazer.
Alguém ganha quando mata um irmão? Alguém ganha quando um país tem filhos que nasceram no meio da fome, cresceram no meio da fome, tiveram filhos no meio da fome e morreram no meio da fome? Não. E se foi isso que aconteceu, é chegada a altura de mudar.
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