O Senegal apelou hoje a África para "concertar-se" e "demarcar-se nitidamente" da Europa, depois de os países europeus terem dado um acordo político unânime ao pacto europeu para a imigração e o asilo elaborado pela França. É assim mesmo. Embora se corra o risco de ficarmos desdentados e cegos, é oportuno lembrar que existe a política do dente por dente, olho por olho.
"É urgente que a parte africana se concerte e demarque nitidamente dos parceiros europeus", vincou o ministro dos Negócios Estrangeiros senegalês, o xeque Tidiane Gadio, durante uma reunião de peritos em Dacar antes de uma conferência euro-africana sobre as migrações e o desenvolvimento.
É preciso "promover fortemente a nossa visão de uma migração concertada e não seleccionada e de uma abordagem global e não selectiva", acrescentou, segundo o texto do seu discurso.
O "Pacto Europeu sobre a imigração e o asilo", apresentado segunda-feira pela França em Cannes, durante uma reunião dos ministros do Interior da União Europeia, visa organizar uma imigração seleccionada e pôr termo às legalizações em massa.
"O Senegal confessa a sua surpresa perante a iniciativa europeia de um Pacto, numa altura em que o ´processo de Rabat´ nos comprometia com uma outra via", acrescentou o ministro. Os países que participaram na conferência ministerial euro-africana sobre a migração e o desenvolvimento, realizada em Rabat em Julho de 2006, tinham-se comprometido "a trabalhar politica e colectivamente na gestão dos fluxos migratórios ao nível da segurança e do desenvolvimento". Uma segunda conferência do mesmo tipo está prevista para Paris em Outubro.
O Pacto para a imigração, cuja assinatura está prevista para Outubro, endurece a política europeia de imigração, ao mesmo tempo que põe em marcha regras comuns entre os 27 países membros da UE em matéria de asilo.
O projecto tem a marca da imigração "seleccionada", cara ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, e acaba com as legalizações maciças e colectivas, em Espanha e em Itália, malvistas pelas autoridades francesas.
Mas para o ministro senegalês, em resposta, a "África deverá preparar o seu projecto de Pacto e talvez um dia os dois Pactos iniciem um diálogo para chegar a um Pacto concertado euro-africano sobre a imigração".
"Com cerca de 60 por cento da sua população constituída por jovens de menos de 25 anos, a África assiste à partida de uma parte importante da sua juventude e a uma fuga de cérebros das mais prejudiciais para outros continentes", lembrou Gadio.
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