sábado, julho 05, 2008

De bestial a besta consoante a opinião
de gente que é bestial ou que é... besta

Anteontem, na FNAC do Chiado (Lisboa) ajudei - conjuntamente com o Eugénio Costa Almeida - a apresentar o livro “Sou Jornalista, Você é Árabe?”, de Ana Paula Castro. Pelos vistos (a fazer fé nas mensagens entretanto recebidas) o que eu disse sobre jornalistas e produtores de conteúdos teve o impacto que eu desejava. Ou seja, uns consideraram-me bestial e outros besta.

A designação besta chega de uma série de gente que, embora não tendo estado presente, resolveu (no pleno gozo dos seus direitos, reconheça-se) mostrar que a melhor forma de provar a sua alta intelectualidade é não perguntar o que se não sabe. Assim, como donos da verdade, disseram o que os capatazes mandaram dizer.

Acresce o importante contributo que o Eugénio deu à festa com o artigo “
Só não assomaram os jornalistas...”, publicado inicialmente no Notícias Lusófonas.

Na verdade, digo eu, quando faltam critérios editoriais de carácter jornalístico, vigoram nos media portugueses os critérios editoriais do estilo “self service” ao qual, por regra, têm acesso privilegiado todos aqueles que estão no poleiro, seja político, empresarial, cultural etc.. O que é notícia, o que é do interesse público, o que é válido é perfeitamente irrelevante numa sociedade de aparências, de favores, de corrupção, de compadrios, de manipulações.

Se o Jornalista não procura saber o que se passa é, foi assim que aprendi com os mestres, um imbecil. Se o Jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso.Será por tudo isto que são cada vez mais os portugueses que não conseguem, ou não querem, comer gato por lebre e dizem que no jornalismo há cada vez mais imbecis e criminosos?

Também aprendi com os mestres que o “produto” jornalístico tinha obrigatoriamente de ser uma referência de credibilidade e não, como agora acontece, uma correia de transmissão de interesses cada vez menos claros.

Quem analisar hoje os media das ocidentais praias lusitanas (re)plantadas a norte de Marrocos, encontra na maioria dos casos pouca informação, rara formação e quase nula investigação.

Isto acontece ainda porque, dada a precariedade profissional, a grande maioria aceita fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar), este aceita fazer tudo o que o director manda, este aceita fazer tudo o que a Administração manda, e esta aceita fazer tudo o que dê lucro.

Será por tudo isto que são cada vez mais osportugueses que não conseguem, ou não querem, comer gato por lebre e dizem que no jornalismo há cada vez mais imbecis e criminosos?

Não deixa, contudo, de ser curioso que – nesta matéria e neste contexto – quanto mais imbecis e criminosos forem os jornalistas, mais hipóteses têm de subir na carreira, seja esta nos media propriamente ditos ou nas assessorias políticas.

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