Pelos sítios por onde tenho andado, e quando me falam de Jornalismo, conto como tudo isto me aconteceu. Tal como recordo algumas das grandes figuras do Jornalismo angolano que na altura, 1973, me serviam de referência, de exemplo, e que por isso “apadrinharam” o amor que – apesar de tudo – ainda tenho a esta, e por esta, profissão.
Se na rádio recordo, entre outros, Alexandre Caratão, Carlos Sanches, Ribeiro Cristóvão, Fernando Antunes (Congo), Norberto de Castro, Sebastião Coelho, na Imprensa (a que mais me atingiu) falo de Carlos Morgado e José de Almeida (responsáveis pela delegação do Huambo do diário “A Província de Angola”) mas, sobretudo, de João Charulla de Azevedo, João Fernandes e Jaime de Saint Maurice, da revista "Notícia".
De facto, foram estes três enormes profissionais da "Notícia" e do Jornalismo angolano, sobretudo os dois últimos, que mais me influenciaram e que me levavam a dizer: Quando for Jornalistas quero ser como eles (João Fernandes e Jaime de Saint Maurice).
Recordo (permitam-me este regresso) que o Zé Pedro, empregado aprumado e sempre eficiente, nunca me servia só o café. Ia bem mais longe. Ainda eu estava a entrar no Himalaia (um dos mais conhecidos bares de Nova Lisboa) e já a bica, o jornal («A Província de Angola») e um maço de cigarros («AC») entravam em cena na mesa habitual. A tudo isto, uma vez por semana, o Zé Pedro juntava algo mais: a revista «Notícia» e, reparem, já aberta na página de «A chuva e o bom tempo», do João Fernandes.
Passados estes anos, não creio que tenha chegado aos calcanhares do João Fernandes e do Jaime de Saint Maurice. Continuo, contudo, a tentar, mesmo sabendo que é uma missão impossível.
E vem isto a propósito de, um dias destes e ao fim de uma eternidade, ter recebido uma mensagem do Jaime de Saint Maurice em que me dizia que teve a sorte (exagero, é claro, de um amigo) de vir aqui, “curioso por escancarar uma "janela" que dava pelo nome de Alto Hama”.
E acrescentava: “É que Alto Hama, para mim, África onde nasci e há muitos anos deixei, é o oxigénio do meu passado, das minhas recordações e desse acordar diário que se chama saudade”.
As voltas que a vida dá, as dobras que faz às esquinas da memória, têm coisas destas. O Jaime de Saint Maurice, um dos Jornalistas que foi farol para a minha navegação nesta tormenta do Jornalismo, lê o Alto Hama. Que bela recompensa.
A tese de que não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado, ganhou novo alento.
Obrigado Mestre Jaime de Saint Maurice.
2 comentários:
Estou contigo, Orlando! Creio ser uma justa homenagem a uma figura que marcou o seu passado, a sua iniciação nesta linda arte. Gostaria de poder conhecer melhor este Mestre.
MVieira
LUanda
Senhor Orlando Castro,
Por ironia do destino, fui ao Google procurar se havia alguma coisa relacionada com JAIME DE SAINT MAURICE e encontrei lá o "Obrigado Jaime de Saint Maurice".
O Senhor perguntará o porquê deste comentário, mas tenho muito prazer em dizer-lhe que conheci essas figuras do jornalismo angolano que menciona, pois trabalhei uma década na editora do NOTÍCIA (a Neográfica SARL). Mas mais do que esse motivo, no próximo dia 18-01-2011, decorrerá o 4ºencontro do 4º ciclo "Olhares Jornalísticos"da "Tertúlia Fim do Império". Este movimento é da iniciativa do Núcleo de Oeiras/Cascais da Liga dos Combatentes, com o apoio da Camara Municipal de Oeiras e do seu Presidente. Contudo para encerrar o ciclo foi convidado a falar o Jornalista e Reporter FERNANDO FARINHA,contemporâneo dos mencionados, mais o Coronel Matos Gomes, autores de "Guerra Colonial,um reporter em Angola" o que certamente dará um brilhantismo excepcional ao encontro.
Meu caro Senhor, permito-me dizer-lhe que as teias que o Império Teceu, são muito mais profundas do que aquilo que podemos pensar, pois eu nunca tinha acedido ao "ALTO HAMA" e cá estou eu a olhar para o passado pela mesma "janela" que Jaime de Saint Maurice escancarou e nos faculta o direito à saudade.
Muito obrigado simplesmente.
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