A China ajuda militarmente o Governo do Sudão nas acções levadas a cabo em Darfur, revela o programa "Panorama" da BBC que será hoje apresentado. Segundo os jornalistas, a ajuda é dada apesar do embargo da ONU.
Os investigadores encontraram, entre outras provas, camiões militares de fabrico chinês em Darfur, exportados em 2005, apesar do embargo de armas imposto pela ONU. Foram também registados testemunhos de que Pequim treina pilotos sudaneses para os caças chineses A5 Fantan.
O embargo imposto pela ONU exige que os governos estrangeiros não ajudem militarmente nenhum dos grupos envolvidos no conflito.
Segundo observadores internacionais que regularmente enviam informações sobre a situação para as Nações Unidas, os meios da força multinacional de paz em Darfur devem ser reforçados e a China pressionada para que a violência termine nesta província do Sudão.
Segundo Daoud Hari, um refugiado de Darfur que vive nos EUA e que recentemente esteve em Portugal para promover o seu livro sobre este drama ("O Intérprete"), "as forças de paz, se tiverem meios, podem fazer a diferença". O problema está, contudo, no facto de "os países ocidentais não querem agir por causa da China". E o que querem os chineses? "Querem o petróleo, pouco se importando com tudo o resto", afirma Hari.
No contexto africano é cada vez maior a influência chinesa, seja através de meras relações comerciais ou de uma crescente influência política e militar, da qual o Zimbabwe é o exemplo mais recente.
Primeiro com a crise que envolveu um navio carregado de armas para o regime de Robert Mugabe e, sexta-feira, ao vetar no Conselho de Segurança das Nações Unidadas a resolução que pretendia impor senções a Harare.
Desde Janeiro está no Sudão uma força conjunta das Nações Unidas e da União Africana constituída por 7 500 militares e menos de 2 mil polícias, mau grado o número estabelecido como o mínimo funcional seja de 26 mil homens.
Segundo a União Africana, que reconhece não ter meios para controlar a situação, o problema reside no facto de a comuniade internacional estar, por exemplo, mais preocupada com o que se passa no Líbano do que com a catástrofe em Darfur.
"Em relação a África parece que o problema é só o da fome", lamenta Daoud Hari, acrescentando que "em Darfur não tinham fome antes desta crise, o que revela que a questão fundamental é de segurança".
Em África, as vítimas, sejam de guerra, de fome, de doenças, contam-se sempre por muitos milhares. A ONU reviu as contas dos últimos cinco anos do conflito em Darfur e chegou à cifra de 300 mil mortos, mais 100 mil do que os dados anteriores. Embora ainda não revistos, os dados sobre os 15 anos de guerra civil no Burundi também apontam para mais de 300 mil mortos.
No entanto, o embaixador sudanês na ONU, Abdalmahmoud Abdalhaleem, qualifica de "exagero grosseiro" o balanço de John Holmes, subsecretário-geral das Nações Unidas para as questões humanitárias, embora não avance com estatísticas oficiais e nem saiba, como reconheceu, se o Sudão tem a população estimada pelas Nações Unidas em 38 milhões de habitantes.
Abdalmahmoud Abdalhaleem diz, aliás, que, "no máximo, o número de mortos provocados pelo conflito de Darfur é de dez mil".
Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)/Orlando Castro
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