Portugal vive, há dez ou mais anos, graves problemas de transparência em alguns dos seus principais baluartes democráticos. A Justiça é, agora, o mais visível. A culpa será certamente mais de uns do que de outros embora, creio, todos nós tenhamos responsabilidades.
Começa a transparecer a imagem de que em Portugal vale tudo, desde logo porque a credibilidade das instituições e dos seus protagonistas está a atingir níveis tão baixos que se tornam preocupantes. Tão preocupantes que, ao que parece, podem pôr em risco o próprio sistema político-partidário do país.
Embora talvez seja mais a parra do que a uva, é certo que no estrangeiro já se olha para Portugal como um país onde é preciso todo o cuidado, havendo já uma síndrome a nível dos investidores que pode levar a que o país seja riscado do mapa.
Casa Pia, Portucale, submarinos, Freeport, Furacão, Face Oculta começam a deixar os portugueses à beira de um ataque de nervos cujas consequências, importa dizê-lo, podem ser mais de meio caminho andado para extremismos, de esquerda ou direita, graves. Não pelos casos em si, mas pelo seu arrastar ao longo dos tempos e pela convicção de que não existe ninguém confiável que possa gerir a coisa pública.
Então qual será a solução? Se calhar ter menos mas melhor Estado, se calhar deixar de fazer no vizinho aquilo que se pode fazer em casa com melhor qualidade.
E melhor Estado passa por descentralizar, por democratizar a economia, por regular apenas o essencial, por – como diz o povo – colocar cada macaco no galho certo. O centralismo excessivo, e não faltam exemplos, leva sempre a desvios que põem em risco a própria democracia porque não transfere para o país real o que este sabe fazer melhor.
É aqui, penso eu, que a regionalização poderá e deverá ter um papel essencial. A centralização é, ao contrário da regionalização, um fértil alfobre para actividades menos lícitas como a corrupção.
Isto já para não falar da economia do país real que, e também sobram os exemplos, ficam em lista de espera até que o sistema tutelar e central decida despois de amanhã (na melhor das hipóteses) o que deveria ter sido feito anteontem.
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1 comentário:
"Se houver uma centralização do poder em que as actividades locais possam estar em causa, a palavra democracia torna-se uma palavra isenta de sentido. Achar uma solução para este problema baseia-se efectivamente na distribuição de território e de cidadãos que possam exercer a sua vida a nível local, cooperantes capazes de funcionar fora do Sistema do Alto Governo e da Alta Finança. O direito de voto é em princípio um alto privilégio, mas na prática tem mostrado que por si só não é garantia de liberdade. Por isso se quisermos evitar a ditadura por plebíscito, quebrai as vastas sociedades, semelhantes a maquinismos da sociedade moderna, em grupos autónomos. A super população e a super organização, produziram a metrópole moderna, na qual uma vida amplamente humana de múltiplas relações pessoais se tornou impossível. Portanto se quereis evitar o empobrecimento espiritual dos indivíduos e de sociedades inteiras, abandonai a metrópole e fazei reviver a pequena comunidade rural, e humanizai a metrópole criando no interior da sua organização mecânica, os equivalentes urbanos das pequenas comunidades rurais, onde os indivíduos se possam encontrar e cooperar como pessoas completas, não como meras encarnações de funções especializadas. Isto é um axioma político, porque o poder persegue a propriedade."
Como vê Orlando, Aldous Huxley em 1958 já previa no que isto ía dar...
Agora realmente é difícil voltar a redescobrir o caminho da Democracia, porque em 50 anos, continuamos com as políticas erradas... mas há que tentar e motivar todos para a regionalização, antes que tudo dê para o torto. Crise e poder concentrado aliado à corrupção é uma bomba relógio! Há que pensar nisso... foi assim que se caiu nas piores ditaduras no passado.
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