O ambiente político em Moçambique parece escaldar mas, como é natural, não passa de fogo fátuo. Ao mobilizar a polícia para acções nas antigas bases da RENAMO, a FRELIMO está apenas – e para já - a mostrar as garras.
É certo que alguns antigos guerrilheiros de Afonso Dhlakama ameaçaram dirigir-se para lá se as eleições de 28 de Outubro não fossem anuladas. Isto porque, dizem, as eleições foram fraudulentas.
Diga-se que, segundo os observadores internacionais, tudo foi transparente e democrático. Aliás, ainda devem estar para nascer os observadores capazes de dizer alguma coisa que desagrade aos donos do poder. É claro que a transparência e a democraticidade vista por esses observadores é quase sempre a antecâmara das ditaduras.
"Para analistas, com o registo de cerca de 10 milhões de eleitores e com votação de apenas 4 milhões, está-se cada vez mais a eleger presidentes menos queridos pela população ou presidentes ilegítimos", escreveu o mediaFAX, propriedade da sociedade Mediacoop, principal grupo editorial independente que há no país e que foi criado pelo jornalista Carlos Cardoso, entretanto... assassinado.
Os números referentes a sensivelmente 90 por cento das assembleias de voto têm apontado para uma abstenção muito próxima dos 60 por cento, dando os votos válidos uma vantagem esmagadora à FRELIMO Frelimo e ao seu líder, o Presidente Armando Guebuza, que tende a ficar com 76 por cento, relegando Dhlakama para bem menos de 20 por cento.
O terceiro candidato presidencial, que é o presidente do conselho municipal da Beira e o líder do jovem Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, ronda os nove por cento.
Ainda quanto aos observadores e à sua inquestionável independência basta ver, se é que alguém está preocupado com isso, que a missão da União Africana foi chefiada pelo especialista angolano Roberto de Almeida, por sinal actual vice-presidente do MPLA.
Se calhar talvez se perceba agora a verdadeira razão pela qual um grupo de cinco técnicos angolanos da Comissão Nacional Eleitoral esteve, em Setembro, em Moçambique. Oficialmente a versão foi de que terão ido aprender práticas de preparação do acto eleitoral.
Agora, pelo menos agora, percebe-se que os angolanos foram a Maputo não para serem alunos mas, pelo contrário, serem professores. O MPLA ganhou as eleições legislativas com mais de 80% dos votos, a FRELIMO deve passar os 75%.
Por outras palavras, Angola foi mostrar como se fazem as coisas. Democraticamente, é claro. É que Angola sabe como se fazem eleições sem cadernos eleitorais, sabe como é possível haver mais votos do que votantes, sabe como calar as críticas internacionais... se alguém tivesse lata para isso.
Entretanto, e parece que até agora poucos ou nenhuns jornalistas estão dispostos a falar nisso, Armando Guebuza articulou o plano de pôr em ordem e na ordem os adeptos da RENAMO com o seu velho e querido amigo José Eduardo dos Santos.
Roberto de Almeida foi o mensageiro que Luanda mandou a Maputo com as instruções: primeiro esmagar pelos votos (como mandam as regras da comunidade internacional) o adversário, depois aproveitar a legitimidade democrática das eleições para erradicar de uma vez por todas a RENAMO.
Quanto a Angola, sectores relevantes e mais ortodoxos do MPLA defendem também uma acção armada contra zonas consideradas bastiões da UNITA. Falta-lhes contudo, e ao contrário da RENAMO, o motivo. Isto é, embora esmagada eleitoralmente, a UNITA nunca ameaçou regressar às suas bases.
E era disso que o MPLA estava e está... à espera.
4 comentários:
Afinal Angola e Mocambique são países irmãos e irmãos quase gêmeos e meio irmão é Zimbabwe.
Gostaria de saber se Angola e Mocambique mandam seus membros das Comissões Eleitorais para Cabo Verde ou Botswana ou mesmo Gana.
Sincearamente, acho que nenhuma eleição é 100% honesta. É impossível não haver fraudes. Aqui no Brasil, mesmo com a urna eletrônica, fraudes vem a tona em todas as eleições e alguns políticos são cassados. Até Bush, na nação mais democrática do mundo, ganhou com fraudes. Os interesses de poucos falam mais altos do que os interesses do povo. Abraço.
Visto sob o prisma de 100% absolutos, não ponho as mãos no fogo por nrnhum país.
A fraude tem que ser vista doutro modo.
1 - Se elaborada, cogeminada previamente, ou como modo de estar na política, pelos orgãos superiores dos partidos - e no caso vertente - a frelimo.
Sim, a frelimo sempre praticou a fraude em actos eleitorais, a fraude é emanada da sua direcção, é preparada, é intencional - e não restam quaisquer dúvidas;
2 - A amplitude da fraude também conta - se é generalizada, ou restrita a alguns postos eleitorais. A fraude em Moçambique foi generalizada, com forte incidência nos resultados - influenciou pesadamente os resultados finais.
Nada disto é surpreedente, atentas as manobras prévias da frelimo.
Que é visceralmente alérgica a quaisquer formas de democracia.
"Uma cobra, será sempre uma cobra"
Provérbio Árabe.
umBhalane,
Essa da fraude me parece desculpa de mau perdedor. Queres dizer-me que a vitoria da FRELIMO e GUEBUZA em mais de 75% foi devida a alguma fraude?
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